O racismo é uma temática complexa. Tem estado na origem de muitos conflitos na história da humanidade, mas isso não é algo que acontece naturalmente. É algo que foi sendo incutido na sociedade pelo pensamento de líderes políticos e muitos grupos radicais. Do meu ponto de vista, tudo por uma questão de interesses político-económicos. Mais do que uma questão de ódio, trata-se de uma questão de opressão conveniente para atingir diversos fins económicos.
Os egípcios exploravam os hebreus não porque os odiavam, mas porque se consideravam superiores e poderiam construir obras faraónicas com o esforço e sacrifício dos hebreus. Os romanos exploravam outros povos por uma questão de superioridade e porque assim lhes convinha. Tudo se resumia ao espírito de competição e de tirar dividendos com essa opressão. Na era dos Descobrimentos, brancos exploravam negros para mais facilmente tirarem benefícios económicos e para gerar mais riqueza.
Hitler, com a criação dos campos de concentração Nazi em Auschwitz, também demonstrou o seu racismo e anti-semitismo, mas, desta feita, por razões do foro emocional. Em Hitler, encontramos uma componente de ódio aos judeus, porque invejava o brilhantismo intelectual dos judeus nos mais diversos campos do saber e o melhor aluno da sua turma era precisamente judeu. Ele não aceitou muito bem este facto e quis provar a superioridade da raça ariana para mitigar os ciúmes doentios que tinha perante os judeus. Charles Manson, responsável pelo assassinato de Sharon Tate, atriz e esposa do realizador Roman Polanski, acreditava que a humanidade seria melhor, quando os brancos exterminassem os negros da face da Terra. Tudo, porque os odiava e achava que os negros eram responsáveis pelo caos e criminalidade nos Estados Unidos da América.
O ódio cega as pessoas e motiva mentes perversas a querer exterminar quem odeia e lhes causa sofrimento emocional por motivos de inveja e ciúmes. Não é muito diferente daquilo que está na base dos crimes passionais motivados por ciúmes. No entanto, tudo advém de experiências negativas do passado que geram sentimentos de rancor e vingança. Não é um processo que se revela automaticamente, mas que tem um longo histórico e conjunto de causas. Se um branco aprendeu a odiar um negro, porque este o superou nalguma competição ou teve algum conflito com ele, nascerá o ódio e a inveja perante o negro. Como refere Nelson Mandela:
Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar.
(Da autobiografia O Longo Caminho para a Liberdade, 1994)
Na África do Sul e nos EUA, viveram-se, como se sabe, fases de segregação racial. Os negros eram discriminados e alguns deles foram assassinados pelos brancos. Nesta luta, dois activistas tiveram grande destaque: Nelson Mandela e Martin Luther King.
Nelson Mandela lutou de forma mais bélica na África do Sul, retaliando com atentados, o que lhe valeu 27 anos de prisão. Martin Luther King, nos Estados Unidos da América, lutou e protestou de forma mais diplomata e com discursos direcionados para a igualdade e para a pacificação, acabando por ser assassinado. Contudo, ambos entenderam que o racismo era uma questão de domínio. Dividir para reinar. Enfraquecer a comunidade negra para fortalecer a comunidade branca. Atropelar os direitos da comunidade negra para reforçar os privilégios da classe branca e não os colocar tanto em perigo. Além disso, o ser humano tem a necessidade emocional de se sentir superior.
O mesmo acontece no conflito entre Israel e Palestina, onde os palestinianos nunca aceitaram que israelitas ocupassem o território deles, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Uma das mais célebres retaliações foi o assassinato de 11 atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique. Claro que estas retaliações geram retaliações e é evidente que o ódio dos israelitas em relação aos palestinianos foi crescendo, culminando em ataques que os palestinianos foram retaliando.
A meu ver, os conflitos raciais nascem essencialmente no desejo de exploração para produzir mais riqueza. Um filme que demonstra isso é o filme “12 anos de Escravo” de Steve McQueen. Os negros não eram particularmente odiados pelos brancos, mas eram úteis para serem explorados nas fazendas para gerar riqueza. Mas a opressão gera ódio e revolta por quem é oprimido e é isso que está na base de grandes conflitos e atentados.
A meu ver, a ganância e o ódio decorrentes de conflitos e retaliações são as duas principais causas dos efeitos nefastos e devastadores que os conflitos raciais geraram na história da humanidade. Faltaram valores como a solidariedade, fraternidade, amizade, justiça e amor. Sobraram em demasia ódios, invejas e desejo de vingança. Se todos bebessem das palavras de Martin Luther King viveríamos num mundo muito melhor:
Ou aprendemos a viver todos como irmãos ou morreremos todos como loucos.
Ou como disse Bob Marley: “Enquanto a cor da nossa pele tiver mais brilho que os nossos olhos haverá sempre guerra.“
Martin Luther King, Bob Marley e Nelson Mandela tinham um sonho legítimo. Eles podem ter morrido, mas as suas palavras permaneceram no tempo e a História demonstrou que eram verdadeiras e não foram proferidas em vão e servem-nos hoje de alerta.