O ano de 2012 arrastou consigo algumas das caras conhecidas da nossa sociedade. Uns tiveram um papel mais emblemático e o seu rasto de vazio tornou-se mais complexo de ser amenizado. Morrer é deixar de existir de forma física, mas será que a morte acaba se vez com a memória?
Miguel Portas
Miguel Portas foi sempre uma pessoa frontal e irreverente, um homem que plantava sementes em todos os canteiros por onde passava. Com uma grande componente humanista, a política terá sido a sua paixão.
O primeiro amor nunca se esquece e este deu frutos toda a sua vida. Aos 15 anos chama a atenção com palavras e actos que o levam a ser detido. Esse leve impedimento, ou uma ridícula ausência de liberdade, fermentou em si e fez crescer o bolo da sua vida.
Aos 18 anos é dirigente da UEC e desenvolve um trabalho interessante com os mais novos que se aventuraram na política. O 25 de Abril de 1974 trouxe consigo uma abertura que se ansiava há muito e era a hora de colocar em marcha os projectos.
Licencia-se em Economia, mas o caminho que segue será num outro sector que sempre o cativou. O mundo editorial falou mais alto e passa a ser regular a sua escrita e a opinião em diversos jornais e revistas.
As viagens sempre o deliciaram e foi nesse contexto que levou, quem quis, até paragens longínquas e exóticas. A História era a sua praia de eleição. Talvez tenha sido esse o real motivo de desacordo com uma certa política que tinha como certa.
Passa a não ser bem-vindo onde era acolhido e segue outro percurso com outros que já não cosiam com as mesmas linhas. Em 1989 abandona o PCP, mas não larga a política. Em 1992 é um dos fundadores da Plataforma de Esquerda que não teve uma vida muito longa mesmo que tenha agitado o quadro político nacional
Em 1994, surge Política XXI, onde se alinhavam, além de elementos do PSR e do Bloco de Esquerda, alguns independentes e muitos descontentes com o pagamento de propinas no ensino superior. No ano de 1999 é cabeça de lista para as eleições europeias tendo sido eleito eurodeputado e reeleito em 2009.
A missão de jornalista não será descurada, tendo sido redator do jornal Expresso tendo, depois, passado para editor internacional no Expresso Revista. Foi igualmente director do semanário Já, escreveu para a revista Vida Mundial e ainda foi cronista no Diário de Notícias e Sol.
Os documentários, Mar das Índias e Périplo, foram da sua responsabilidade. A RTP2 encarregou-se de os transmitir. Publicou alguns livros, Périplo, O Resto é Paisagem e No Labirinto. Ainda teve tempo para assessorar, no sector da cultura e do urbanismo, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Jorge Sampaio, de 1990 a 1991.
A cultura é um modelo que serve com toda a elegância e estilo. Filho de Nuno Portas, o arquitecto que se aventurou na modernidade e de Helena Sacadura Cabral, a primeira mulher que foi admitida no Banco de Portugal, recebeu genes de excelente qualidade que soube usar até ao final dos seus dias.
Nascido num dia de importância mundial, o 1 de Maio de 1958, a morte veio encontrá-lo a 24 de Abril de 2012, na sequência de um cancro de pulmão que lhe havia sido detectado dois anos antes. Fumador compulsivo, deixou marca que não se consegue apagar nem esfumar.
Não nos podemos esquecer de…
Donna Summer
Donna Summer, nome artístico de LaDonna Adrian Gaines, foi a rainha do Disco, uma forma de música que encantou os anos 70 do século XX. O título ainda lhe acrescentou mais valor nas décadas seguintes, 80, 90 e 2000, como a rainha da Dance Music.
Era um êxito tudo o que cantava e vendeu 200 milhões de discos, ainda no velho sistema de vinil que todos ouviam no conforto das casas. Contudo era nas discotecas, as casas onde a noite se fez para dançar, que a sua voz e movimento, eram levados ao rubro.
Cristã devota, começou a cantar nos corais da igreja e rapidamente deu nas vistas pela potencialidade das suas cordas vocais. Casou-se com Helmut Summer, por quem estava profundamente apaixonada e teve três filhas. Tentou outras artes e a pintura foi uma delas tendo obtido pouco reconhecimento.
O dia 17 de Maio marca o seu final de vida. Havia sido diagnosticada com cancro nos pulmões, que considerou um castigo de Deus por a sua música ter inspirado situações menos adequadas. Contudo lutou contra a doença que acabou por sair vencedora.
Neil Armstrong
Neil Armstrong, o homem que pisou a lua, o que colocou o pé, com timidez receosa, no solo lunar, uma honra reservada apenas a alguns, foi um pioneiro. Os anos 70 do século passado, agitados e sob algumas ameaças, tiveram o condão de oferecer novidades assombrosas. O espaço era já ali.
Astronauta, uma profissão bem restrita e muito exigente, foi o verdadeiro toque de Midas para este homem multifacetado, que deu muito se si ao mundo. Além do já mencionado, foi ainda engenheiro e professor, um homem multiplicado que deixou um enorme legado à comunidade científica.
“Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade”, a frase emblemática que passou a verdade aos vindouros sem que houvesse explicação sobre quem o fotografou o astronauta a pisar a Lua. Ainda hoje suscita dúvidas e perguntas sem resposta.
A 25 de Agosto, depois de uma vida muito rica em vários sectores, encerra as mil e uma tarefas que o caraterizaram e lhe deram lugar na história mundial. O espaço, o bicho papão foi alcançado, mas não a eternidade.