Habituados a queixarmo-nos de estarmos no cu do mundo, agora queremos voltar para ele, só ainda não nos apercebemos. Quisemos sempre ser vistos e aclamados pelo mundo fora. Corremos atrás dos nomes de portugueses que mais ecoassem no estrangeiro, para afagarmos a pequena alma lusitana. Agora repudiamos essa fama que conquistámos. Já não torcemos para que os curiosos cá venham.
Não nos identificamos com políticas de boas-vindas às nossas cidades por essas boas-vindas serem dadas com uma vontade velada de anular os de cá. Portugal é um sítio lindo para se visitar desde que tiremos os portugueses das paisagens, empurrando-os para as zonas limítrofes dos centros turísticos das grandes cidades.
Eles que sirvam os que cá vêm com um sorriso no rosto, mas que esse sorriso se esmoreça quando chegarem à noite aos seus T0 em Mem Martins e lhes tiverem arrestado a pouca mobília que tinham porque as gorjetas não chegaram para mais.
Ao fim e ao cabo, não se trata diretamente de não nos quererem cá. Esse recambiar dos que aqui nasceram calha ser apenas um dano colateral de políticas bem-intencionadas, mas com meios sádicos para as concretizar. Sádicos ou preguiçosos.
É um dano colateral que dificilmente se conclui que tenha sido realmente pensado de forma calculista. Foi mais um caso de “deixa andar” e do “depois logo se vê no que dá” que resultou num grande “devia-se ter pensado melhor nisto antes” que caracterizam a forma de fazer coisas neste país. Ou, quiçá, a própria espécie humana.
Foi uma aposta ganha em que o que se apostou foi a estabilidade de muitos a troco de fotografias panorâmicas lindíssimas, mas vazias, ou repletas de marcas de quem já não lá mora.
Não se pretende com isto insinuar que o culpado é o estrangeiro que, de tanto ouvir falar quis vir comprovar. Devemos recebê-los bem, demonstrar gratidão e hospitalidade.
Mas podemos invejá-los por usufruírem do que temos, mas que não nos é dado.