Olhas para mim como se me apontasses uma arma e eu penso: quem te fez de versos?
O mundo está às escuras. Sentada na janela, a forma da tua silhueta é feita de luar e das palavras que te salvaram. Olhas-me de dentro de um silêncio desenhado em câmara lenta e pareces tanto o voo de um pássaro que me reaprendo na tua liberdade.
Começo a desconfiar que as pontas dos meus dedos pertencem à tua pele.
Olho para ti como se te apontasse uma arma: quero que apagues a distância que teimas em traçar entre nós.
Encosto-me à parede. Deixo as dúvidas ocuparem o espaço que nos separa. Faz com elas o que quiseres. Torna-as conclusões. Eu é que já não sei fingir que não estás sempre na ponta da minha língua, no canto do meu olho, na sombra do meu pensamento.
Caminhas para mim, pés feitos de música e noite nos ombros. Prometes-me o inefável que guardas nos gestos. Pensei que não saberia tocar o desconhecido, mas fazes que valha a pena ser entropia e pó.
Olhas para mim como se me apontasses uma arma e de repente sei a medida certa do vazio que me vais deixar.