
Ontem saí para comprar pão fresco e, na entrada do prédio, cruzei-me com uma senhora que com a voz mais doce do mundo me questionou se podia colocar máscaras feitas por ela nas caixas de correio.
Nos seus braços, trazia tesouros raros. Enterneceu-me a sua bondade.
Olhei-a nos olhos e, por detrás daquela burka ocidental, compreendi a verdadeira dimensão de humanidade.
Logo ali apeteceu-me dar-lhe um abraço, daqueles que faz estalar os ossos das costas, mas, num turbilhão de emoções interiores, limitei-me a dizer muito obrigado.
Mais tarde, zanguei-me comigo mesma por não trazer no bolso um manifesto de agradecimento para prestar homenagem a todos os anjos que se cruzam no meu caminho. E ultimamente tenho visto várias asas.
Nunca, como hoje, a frase “o Bem faz-se bem e em silêncio” fez tanto sentido. Esta proposição foi uma lição de vida apreendida na paróquia de Cuamba, uma cidade perdida no norte de Moçambique, onde o pouco que se faz se torna muito.
Pelo que percepciono, outro vírus tem tomado grandes proporções, o da solidariedade. Que se torne igualmente uma pandemia, do que de mais autêntico e benevolente trazemos dentro de nós.
O meu bairro é o melhor de Portugal.
Até os melros se mudaram para as nossas árvores. Que tempos extraordinários estes.