MULHER a várias vozes ou, talvez não!

A opinião de uma pessoa nada diz, e o conjunto de várias, enche as linhas. Assim gostaria. Que fosse um testemunho em modo reflexivo, a tantas vozes, quantas as possíveis, como forma de em uníssono se encontrar um ponto de equilíbrio do que é ser mulher e viver num país ou sociedade que as odeia, não respeita e não valoriza como deveria (?).

Muitos dos meus textos referem o papel da mulher e a sua condição, continuamente marginalizada, numa sociedade padronizada e ridiculamente patriarcal.

Esta coisa da mulher querer a igualdade tem muito que se lhe diga.

Já lá vão os tempos em que a “luta” era desigual e as tais, “com eles no sítio”, se revolucionaram em prol de alguns dos seus direitos. Alguns… a elas devemos agradecer.

A elas, devo agora a minha liberdade, em poder usar a minha voz e este texto ser um reflexo disso.

“You act better when you are sure”

Há tempos escrevia:

Que questão é essa em que o pensar sociologicamente a co-dependência das mulheres pode trazer benefícios para uma sociedade em que essa mesma co-dependência é necessária para a continuação da espécie?

Se só há bem pouco tempo se assumiu que o papel da mulher é relevante na cultura de um povo?

Se, e apesar de, desde sempre terem existido mulheres que jogaram o avental ao rio e nadaram contra mares e marés; muito pouco se conhece sobre o véu que tapa este animal racional.

Em verdade se diga, que só mesmo ser mulher para compreender a mulher e a sua evolução, ou não?

Esta sociedade vai continuar sempre a ser patriarcal e falocrática, porque isso é permitido pelas próprias mulheres, que mantêm o papel de comandar o seu barco e, o daqueles cuja dependência lhes pertencem, quer sejam os cônjuges, os pais, os filhos, os irmãos, os tios, os primos, os professores…

(…) Se o papel materno é mais relevante para si mesma, e a possibilidade de conceber algo ser mais do que uma mera contribuição para a sociedade patriarcal em que está inserida. Ela própria assim definirá o seu descendente.

(…) O que distingue uma mulher de outra é a sua perspicaz forma de assentir se o relacionamento é abuso.

A mulher, emancipada ou não, permite ser dependente, controlada, viciada numa montanha russa de desgostos, frustrações e emoções tresloucadas.

O que a mulher ainda não aprendeu foi a ser homem e a compreendê-lo como ele próprio é.

Ridículo este pensar, ao agora voltar a reler algo de mais de 20 anos. Parece que não há grandes diferenças, muitas melhorias ou algo que se defina evolução. Nem na sociedade que se mantém varonil, nem na própria mulher, que perpetua esse comportamento.

“À medida que aumenta o poderio de uma sociedade, assim esta dá menos importância às faltas dos seus membros (…) Isto é, o credor humanizou-se conforme foi enriquecendo; como que no fim, a sua riqueza mede-se pelo número de prejuízos que pode suportar.”                    Nietzsche, a genealogia da moral*

Continuarão as mulheres a ser demasiado benevolentes com quem as aprisiona neste estado de inferioridade?

Deveria ser simples e claro para todos.

Como alguém referia quanto ao sistema político:

um sistema político, para ser bom, deveria fazer sentido quando o explicamos a um miúdo de 10 anos“.

Naomi Wolf, activista política e escritora

Esta temática também o deveria ser. Simples na forma como se aborda o tema. Transparente para que qualquer um compreenda. Como se fossem todos crianças de 10 anos.  Só que não, chegou-se à conclusão que a maturescência é pouco compreendida, até pelos próprios que nela estão.

E que nunca fará sentido enquanto existir abuso, violência, procrastinação, abandono, tráfico, analfabetismo, mortes e prisão…única e simplesmente por se ser Mulher.

Uma solidão permanente. Um estado inanimado de Mulher. Sensação que perdura em se isolar no próprio mundo. Submissão continua.

Um tema que para fazer sentido, nem deveria ser tema, mas acção no modo como todas as mulheres se deveriam ver enquanto género de gentileza, força, coragem, resiliência. Uma ténue linha que as separa entre o ser e o advir. Unificadas quando a isso se verificasse. Porém, não!

E começam a ser usadas palavras sem princípio, meio ou fim, pois da desvalorização de si mesma, a mulher nunca terá o poder seu.

Porque a mulher emancipada, dona de si mesma, independente, agirá contra os seus pares e se infiltrará no “mundo dos homens” como igual. E, mesmo nunca o sendo, não tomará o partido daquelas que em determinado momento, apelem ao seu apoio se forem as vítimas de violência ou abuso.

“Que me importam a mim esses parasitas?

Que vivam e que prosperem; eu sou forte bastante para me inquietar por causa deles…” *

E, sim, este é um texto escrito por uma mulher, para as mulheres que o irão ler e os homens também. Sempre em modo introspectivo para que leve à reflexão, e quem sabe do diálogo, se gere acção.

Inicialmente, senti que deveria ser escrito a várias vozes, trazendo à tona palavras de outras mulheres, pelo que pedi a dúzia e meia de mulheres resposta à questão inicial. Muito poucas responderam,  e deram a sua opinião. Mostrando o quanto estão conscientes, activas ou indiferentes…num país, onde, apesar de tudo, se adquiriram direitos, se vota, se é livre para vestir ou ir onde quiser (sozinha) e se tem liberdade de expressão. Nenhuma conhece de cor a realidade de ser ofuscada, melindrada,  paralisada, sem voz…por ser apenas Mulher. O privilégio de ser livre que faz esquecer o preço dessa liberdade, para que viradas para o centro seu, as suas rotinas, a sua bolha existencial, facilmente se não veja o essencial que da união pode gerar.

Conhecerá, com toda a certeza, outras batalhas, outras lutas, milhentas dificuldades que teve pela frente. Não por ser apenas Mulher, mas por ser mulher.

Uma empatia, que a existir ficaria aquém das suas próprias vivências. Algo que fazemos perante a dor, a doença, o luto…

“À medida, pois, que aumenta numa sociedade o poder e a consciência individual, vai-se suavizando o direito penal(…)”*

Uma coisa é certa: o lugar onde a mulher nasce irá ditar-lhe as regras como será vista na sociedade.

E nascer no Ocidente tem, desde logo, uma larga vantagem daquelas mulheres que nascerão no Oriente.

Sou uma privilegiada, então.

Não sei se se poderá afirmar que as mulheres são odiadas em Portugal, ou em outro qualquer país da Europa. Já desvalorizadas e desrespeitadas isso acontece com muita frequência, num século onde deveríamos ter outro tipo de consciências.

Será acertado dizer que se perpetuam essas mentalidades porque as mulheres continuam a aceitar ser menos do que são? Ou, será injusto aqui referi-lo neste texto?

Não querendo personificar o papel que se deveria ter, parece-me que a pergunta a fazer é apenas esta:

– Como é Ser: mulheres?

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Comments 2
  1. Obrigado às MULHERES de ontem, de hoje, e de um amanhã que eu espero seja menos patriarcal, mais consciente e respeitador sobre a importância das MULHERES em todas as sociedades.

    1. Olá, Hugo!
      Obrigado pelo teu comentário! Às vozes das mulheres deverão juntar-se as vozes dos homens! Juntos é que poderão fazer a diferença. Bem-Haja!

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