Na demanda incessante pelo progresso tecnológico, somos confrontados com a dolorosa realidade de que, apesar de todos os avanços, a prometida liberdade e eficiência – sobretudo no que ao trabalho diz respeito – estão longe de serem alcançadas. A tecnologia, concebida para ser a panaceia dos encargos laborais, revelou-se, muitas vezes, como uma fonte de desumanização e desafios imprevistos.
Enquanto os defensores da automação celebram a eficiência inquestionável das máquinas, é imperativo questionar se essa eficiência não veio à custa de um contacto humano vital. A dependência excessiva de algoritmos e sistemas automatizados resultou na substituição de interações humanas genuínas por interfaces impessoais. A rapidez e praticidade muitas vezes celebradas nas respostas automáticas e nos processos automatizados escondem o preço pago: a perda da essência humana na esfera laboral.
Já vos contei a história de como fiquei apeada na autoestrada e cuja única fonte de “resgate” foi um formulário um pouco mal “formulado” e com certeza também vocês terão outros exemplos em que entrar em contacto direto com uma pessoa em vez de uma máquina teria sido vantajoso para ambas as partes, quer a nível de gasto de recursos, quer a nível de rapidez no serviço.
Ao delegar tarefas complexas a máquinas, enfrentamos a ambígua realidade de que a automatização não é uma garantia infalível de perfeição. A ausência de discernimento humano pode levar a erros catastróficos que uma mente humana experiente poderia prever e evitar. A frieza lógica das máquinas não pode substituir a intuição, a empatia e o discernimento ético fundamentais em muitos contextos profissionais.
A somar a esse facto, a constante disponibilidade tecnológica tem um custo na saúde mental e física – e isto pode ser aplicado a colaboradores e a empregadores. O conceito de “trabalho em qualquer lugar, a qualquer hora” tornou-se uma norma, exacerbando a pressão sobre os trabalhadores para estarem sempre ligados, mas também sobre os empregadores para estarem presentes em todas as plataformas, a toda a hora. Como quando já estamos a almoçar ou ainda respondemos àquele e-mail porque “não custa nada”, ou quando até já estamos em casa, com a nossa família ou no silêncio do merecido descanso e atendemos a chamada da colega que quer antecipar a reunião do dia seguinte. O dilema entre produtividade e bem-estar está mais evidente do que nunca, e a promessa de uma vida equilibrada, que a tecnologia deveria trazer, tornou-se uma utopia distante.
O distanciamento da realidade humana é evidente na superficialidade das interações virtuais, onde a complexidade das emoções e nuances é frequentemente perdida. A redução do trabalho a transações automáticas levanta a questão de quanto estamos dispostos a sacrificar em nome da eficiência.
Num mundo onde a automação e a tecnologia são glorificadas como soluções para todos os males laborais, é fundamental levantar questões críticas. A utopia da eficiência sem falhas e do trabalho sem esforço desafia a realidade de que, muitas vezes, a vantagem tecnológica vem com um preço humano significativo. É imperativo reavaliar o nosso compromisso com a tecnologia e garantir que o progresso não nos conduz a uma desumanização irreversível no local de trabalho.
Mais do que a desumanização, é a demanda dos gigantes tecnológicos em nos robotizar . Aliás, essa demanda já dura há anos. Se assim continuar, a interação humana ( já longe de ser o que era) entrará em vias de extinção. São os self-check in’s; os self check-out’s; os atendedores automáticos … não me quero alongar mais.
Se isto não for regrado, regulado e balizado, será catastrófico a vários níveis.
A tecnologia é incrível e precisamos dela para a nossa evolução; mas os recursos humanos, bem como a interação humana são ainda mais incríveis e fundamentais.