Em 2014, o facto de Portugal ter voltado a ser um ponto de emigração fazia capas de jornal e abria noticiários. Nesse ano, 134 624 portugueses deixaram o país. Mais de 60% dessas pessoas tinham idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos. Foi o confirmar de uma tendência, que a crise financeira tinha vindo a agravar. Hoje, 70% dos jovens emigrados qualificados admitem que querem regressar a Portugal, mas tal não significa que as intenções se convertam em estatísticas efetivas.
A ideia parece ser sempre a mesma: lá fora, os salários são mais elevados e há mais estabilidade laboral. Vivemos num mundo globalizado e há que aproveitar as facilidades de mobilidade. Estas mesmas ideias foram reforçadas pelo executivo de Passos Coelho, quando, em 2011, apresentava os PALOP como uma alternativa a professores não colocados, desempregados e jovens.
Os argumentos da coligação foram recebidos com crítica e, atualmente, pouco se sabe sobre as características da emigração. Todavia, há uma certeza: ao contrário do que se vai ouvindo em conversas de café, o relatório do Observatório da Emigração mostra que não estamos, na generalidade, perante uma fuga de cérebros. Na verdade, 61% dos emigrantes têm a escolaridade básica.
Contudo, a emigração da geração mais bem qualificada de sempre, cuja “ambição” Miguel Relvas aconselhou a “desafiar” no estrangeiro, acarreta perdas económicas substanciais. Segundo dados da OCDE, o investimento alocado na formação de um jovem, desde o ensino básico até ao ensino superior, ronda os 100 mil euros. Ou seja, são 100 mil euros que não têm retorno intelectual em Portugal.
Por outro lado, o número de emigrantes temporários (que não pretendem ficar no estrangeiro num período superior a 12 meses) tem vindo a aumentar. Contrariamente ao que acontecia nos anos 60, quem deixa o país não se imagina a amealhar dinheiro, para que depois possa viver uma reforma tranquila em Portugal. Nos nossos dias, parece existir um cunho muito vincado de portugalidade que se quer imprimir nos filhos, pelo que educar as crianças no estrangeiro é, cada vez menos, uma opção.
Na internet, os blogs dão conselhos específicos para quem quer emigrar para a França, a Suíça ou o Reino Unido. Há fórmulas a seguir antes da partida, no ato de partir e à chegada. Em praticamente todos esses fóruns, se adverte que a vida de emigrante não é fácil, que, no estrangeiro, lavar escadas não é vergonha: é preciso é trabalhar. Porém, mesmo aqueles que conseguem emprego na sua área de formação – e receber, muitas vezes, um salário três vezes superior àquele que lhes seria auferido em Portugal – pedem um pouco mais. Esse “pouco mais” é poder trabalhar em Portugal, é poder passear com os amigos portugueses, é não ter que desistir de relações que a distância esbateu.
Quem parte espera imaginar-se a regressar. E vive “dias a fio” de olhos postos no reencontro com as bifanas, com a cerveja e com a esplanada onde pode assistir ao jogo da seleção. Nessa esplanada, amaldiçoam-se os árbitros em língua portuguesa e festeja-se em português. É-se português entre portugueses. Em Portugal.
Não advogo que o sentimento vivido lá fora no século XXI seja diferente daquele que se vivia nos anos 60. Afinal de contas, saudade será sempre saudade. Porém, a nova geração afirma com menos preconceito que regressar não é desistir de uma carreira bem remunerada. Regressar é acreditar num Portugal melhor. E sim, a cantiga será sempre a mesma: “Talvez que eu morra de noite/Onde a morte é natural / As mãos em cruz sobre o peito/ Das mãos de Deus tudo aceito/Mas que eu morra em Portugal”. E é este o nosso fado.
https://www.youtube.com/watch?v=ksYCaxqQjY0