Todos nós nos conseguimos relacionar com a típica imagem de um miúdo assustado e tímido no meio de um conjunto de adultos. Porquê? Porque sabemos o que é sentir-se diferente, estranho e desconfortável à realidade que nos rodeia, ao ambiente que se vai tentando entranhar em nós, mas que resistimos e procuramos afastar. Afinal, já todos fomos adolescentes e sentimos este desenquadramento típico e assustador. E, enquanto miúdos que se tornam homens, geralmente deixamos sobressair uma veia mais artística naquela idade em que procuramos saber quem somos, sem deixa-lo transparecer. Um diário que vamos debitando, uma canção ou melodia que inventamos, um caderno de poemas que nada mais são do que o reflexo de emoções, um dedicar ao exercício físico, capaz de nos qualificar como os atletas mais apaixonados e empenhados ou outra fuga qualquer da realidade que nos atormenta!
O que provoca isto? Nada mais, nada menos, do que o contacto com a diferença. Este é o catalisador para um mundo de imaginação, só acessível pela criatividade!
Como boa investigadora do séc.XXI, que adora o seu computador e a fabulosa Internet, uma pesquisa rápida na Wikipedia permite-me descobrir o que há de tão atraente no conceito de criatividade que leva os loucos a arrogarem-se de a possuir e os racionais a persegui-la incessantemente. Assim, “a criatividade é considerada uma capacidade humana de grande valor universal e tudo indica que nesta competência reside a memória “RAM” biológica para o impulso da evolução humana”… Mas será que há situações em que o nosso cérebro pode ser mais estimulado, levando-nos a uma maior evolução?
A verdade é que, um adolescente num contexto sociocultural mais desenvolvido e responsabilizante, diferente dos valores e padrões ditos normais a si, terá de arranjar novas formas de suportar os seus problemas. Como a lei da vida dita: terá de aprender a desenrascar-se, antes mesmo de largar as fraldas! E é este desenrasque que só será possibilitado pela força da sua imaginação, tornando-o obrigatoriamente e necessariamente mais criativo.
Porém, se colocarmos um outro adolescente num ambiente mais privilegiado, sem que este sinto o peso das suas decisões e sem grandes consequências, então parece-nos óbvio que a sua imaturidade se revelará devido à vivência contínua na sua zona de conforto, em que respostas e reações já são conhecidas. Desta forma, é bastante fácil entender que ambientes diferentes, desconhecidos e, por vezes, contrários às nossas pretensões ou desejos, levarão necessariamente a um crescimento. Sendo este uma consequência imediata da prévia carência de criatividade na resolução dos problemas que enfrentamos.
O mesmo se passa com os adultos. Só em diferentes contextos, em comunicação com diferentes pessoas – de raças, religiões, géneros e orientações sexuais diversas – é que estaremos prontos a conhecer-nos. Sim, porque no fundo ser criativo implica confiar em si mesmo e conhecer os cantos das suas emoções, as arestas dos seus pensamentos e estar pronto a que a sua mente, enquanto grande árvore, esteja pronta a dar mais frutos. O contacto constante com a diversidade de indivíduos, comunidades inteiras, regiões e espaços permitirá desenvolver a sua empatia, tentando colocar-se em diversas situações e posições e, ainda, entender diversos modos de viver e diversas motivações. O que daí for resultante não poderá ser mais do que aventuras, experiências, amores e recordações que, um dia, poderá relembrar no conforto da vida que escolheu.
Para ser criativo, na sua vida, no seu trabalho, nas suas relações de amizade, amor, paixão e ódio – já está na altura de substituir o velho ditado de a vingança ser um prato que se serve frio! – Não precisa de estar sempre a viajar ou a obrigar-se a conviver com outras pessoas, sobretudo se tudo o que lhe apetece é estar em casa com os seus amigos de longa data ou simplesmente desfrutar da sua solitária companhia. Tudo o que precisa é de explorar o mundo e sair do conforto da sua esfera pessoal, mesmo sem ter de sair do seu lar acolhedor. Pegue num livro sobre outra cultura, com personagens de outro género, etnia ou século. Se prefere uma boa fornada de filmes, assista a alguns sobre conflitos internacionais repletos de ação ou umas boas comédias românticas de casais “diferentes” do esperado. Não anda com muito tempo para folhear algo, nem para ver umas boas filmagens? Faça uma rápida pesquisa, bem selecionada e específica, na Internet acerca de uma qualquer comunidade que lhe arranque da típica realidade em que o seu quotidiano se afundou. Lembre-se, como Koestler afirma “a criatividade é um tipo de processo de aprendizagem em que o professor e o aluno se encontram no mesmo indivíduo”.
O mundo, louco e selvagem, com ideias por descobrir e coisas por criar – uma frase, uma música, um novo jeito de amar – está mesmo depois do seu olhar. Quanto tempo mais vai esperar para ser criativamente diferente?