Às vezes a vida parece temporária!
Olhamos para os nossos dias e tudo nos parece uma pequena paisagem em que ao longe se vê o templo da evolução, aquele que contemplamos sem sabermos se iremos lá chegar.
A vida é feita dessas lições que nos fazem, por vezes chorar sem sabermos o motivo. Vertemos lágrimas que nos roubam o tempo que nos está destinado para aproveitarmos tudo a que temos direito. Da mesma forma que nos concentramos em detalhes sem valor e deixamos passar ao largo tudo o que nos podia ter acrescentado felicidade.
Quando um dia olharmos para trás e percebermos que o passado está distante e que o fim está ali à frente dos nossos olhos, então, entenderemos o valor da vida que até ali não quisemos viver.
A verdade é que tudo passa tão rápido, mas tão rápido que hoje pode até ser o meu último dia. Posso não ter tempo para me despedir de ti. Podem faltar-me aqueles segundos em que num só olhar te poderia confessar o quanto fostes importante para mim.
Nesta corrida contra o tempo tantas foram as vezes que te ignorei. Fechei-me no meu mundo e esqueci-me de te deixar entrar no meu espaço para que pudéssemos partilhar a história que alguém escreveu para nós. Durante todos estes anos rasguei algumas das páginas do nosso romance e com tudo isso impedi-te de seres feliz.
Hoje, apeteceu-me fazer contas aos dias que me restam e fiquei assustada, pelas minhas contas este poderá ser o último dia da minha existência. Fiquei com medo de não te ter dado tudo aquilo que tinha guardado para ti, tudo o que devias ter vivido e que eu, por egoísmo, fui adiando com a desculpa de que a vida deveria ser eterna e que ainda teríamos muito tempo para a viver. Esqueci-me de te mostrar em pequenos gestos tudo o que sinto e que poderia ter tornado as nossas vidas diferentes.
Amanhã talvez já cá não esteja e aí, apesar de chorares a minha ausência, vais dizer e com razão, que sempre fui egoísta, não quis ver a realidade só porque estava concentrada nas minhas prioridades.
Ao longo dos anos ignorei o que me davas, agora que posso estar perto do último minuto de vida arrependo-me de tudo o que não vivemos. Olho, aflita para o relógio da vida percebendo que ele corre mais rápido do que eu. Hoje ele corre e eu apenas me arrasto. Ele continua veloz e a mim já me faltam as forças.
A vida deu-me quase tudo e eu pouco ou nada vivi. Deu-me a oportunidade de te amar e eu virei-te as costas como se a razão estivesse sempre do meu lado. Agora, que o tempo está em contagem inversa à minha vontade, encontrei esta necessidade louca de viver para te poder dizer que afinal sempre te amei, até naqueles momentos em que o negava com toda a convicção. E agora o tempo está a fazer comigo o que eu sempre fiz contigo. O tempo está a ignorar-me, olha para mim e finge que não vê o meu sofrimento.
Finalmente, compreendo o que sempre me disseram com aquele velho ditado popular ” cá se fazem, cá se pagam”, é que eu ainda não parti e já estou a sofrer por não poder ficar aqui.
Sei que é tarde, que este pode ser o meu último dia, e a vida já não me dá grandes oportunidades para além daquelas que eu rejeitei a vida inteira. Tudo passou, restam-me algumas horas, olho para o horizonte e percebo que o fim está ali à minha frente. O fim já chama por mim enquanto eu chamo por ti, mas já não posso alterar mais o meu destino.
Por isso, deixou-te apenas uma última palavra “perdoa-me”, porque o teu perdão me deixará partir mais leve, sabendo que entendes que finalmente percebi o quanto te amo, mas é tarde demais para viver esse amor.
Ontem teria tido todo o tempo do mundo para te ter amado, mas gastei esse tempo olhando para o meu reflexo no espelho da vida, achando que não poderia gastar a minha beleza e o meu tempo vivendo para um amor que me estava destinado quando existia um mundo inteiro para descobrir.
Sei que te obriguei a ser infeliz ao contrariar a realidade que estava ali ao meu lado, agora culpo-me por esse erro que não tenho tempo de corrigir. Por isso meu amor perdoa-me antes de partir, para que estes últimos passos não me pareçam a mais longa caminhada que tive de fazer.