Maria e Bernardo
Ele e ela
Um casal
Chiça! Isto assim é mesmo difícil. A cultura do género e do sexismo está mesmo enraizada em mim. Vou recomeçar. Com calma. Eu consigo. Sou mais forte que todas estas formatações de géneros.
Duas pessoas aguardam ansiosamente que o pequeno ecrã do aparelho se ilumine e lhes mostre a amálgama imperceptível de membros e órgãos da pessoa pequenina que uma das pessoas alberga no abdómen.
A médica é detalhada e minuciosa, percorrendo todo o abdómen em latitude e longitude, sorrindo para consigo, porque a pequena pessoa “é malandreca e não pára quieta”.
– Querem saber o sexo?
– Não, não! – exclama o progenitor número 1.
– Não queremos que a nossa criança tenha qualquer formatação imposta por um género. Para nós e para o mundo é só uma pessoa. Uma pequena pessoa. – explica o progenitor número 2.
– ….
– Queremos que seja livre e que escolha por si o género que a fará mais feliz. – prossegue o progenitor 1.
– Mas… A diferenciação por género não tem nada a ver com a diferença de sexo… – intervém aturdida a médica.
O progenitor 2 continua:
– Mas essa desigualdade começa a partir do momento em que lhe dizemos que é menino ou menina. Aí estamos já a impingir-lhe uma série de preconceitos e estigmas que não queremos que sinta e que já estão ultrapassados.
– Não precisamos de um príncipe num mundo encantado ou de uma princesa num mundo azul. Só queremos que a pequena pessoa seja feliz e livre. Sem masculino ou feminino. Sem diferenças e todos iguais.
A médica – ou simplesmente a pessoa de bata branca numa linguagem mais correta e sem sexismo – inspirou profundamente, sorriu, prosseguiu com o exame e concordou:
– Sabem que mais? Os senhores é que têm razão. Para quê príncipes ou princesas quando podemos ter o bobo da corte?