O machismo é uma atitude expressa através de opiniões e atitudes em que se valoriza o lado masculino enaltecendo-o de tal modo que o coloca numa situação de superioridade. Existe uma recusa na aceitação do outro a que chamam de sexo menor ou inferior. O machista considera-se sempre acima de qualquer suspeita e de qualquer contenda.
Para o machista o homem ocupa a posição mais elevada considerando-se superior à mulher. É uma questão cultural que se encontra de tal forma enraizada que todos os aspectos, sociais, políticos e económicos da sociedade ocidental, reflectem essa mesma ideia. Baseia-se num regime patriarcal onde a figura masculina representa o chefe e este deve ser obedecido sem qualquer objecção.
A mulher, por seu lado, terá de ser submissa perdendo os seus direitos mais básicos como a liberdade de expressão e de pensamento, servindo o homem em todas as suas vontades. Primeiro como pai e depois como marido. Sem qualquer opinião, servia somente para ser vista e apreciada. Uma espécie de objecto que se movia graciosamente.
No imaginário machista a mulher é o objecto de prazer, a fantasia sexual, aquela que nasceu para o satisfazer sem ter a capacidade de pensar ou de sentir. O prazer sexual feminino não existe e o seu corpo pode ser usado a bel prazer masculino. O homem é o macho, o viril, o másculo, o que aplica o castigo e o que deve ser sempre seguido.
O sistema educativo e a religião tinham a função de perpetuar este pensamento e, se possível, de o acentuar até que as barreiras invisíveis ficassem mais fortes e poderosas. As mães incutiam nas filhas a ideia de serem pessoas decorativas e não participativas. A anulação dos desejos e das vontades começava no início da vida e os sentimentos eram ocultados.
O mundo era dos homens, os que trabalhavam e providenciavam o sustento da família. A mulher cuidava da casa e dos filhos tratando do lar como um pequeno paraíso onde regressava o seu pequeno deus e onde encontraria todo o conforto e repouso necessário para retemperar as energias. Eram as chamadas fadas do lar.
Se durante séculos esta postura e forma de estar na sociedade foi aceite, ou pelo menos desculpada, houve uma altura em que as mulheres, o chamado sexo fraco, tomaram as rédeas da sua vida e fizeram ouvir a sua voz. Nasce, então, um movimento que terá o nome de feminismo. De pendor social, filosófico e político, a sua luta é pela igualdade de direitos e deveres entre os homens e as mulheres e não pela tomada do poder.
O principal objectivo é desconstruir a ideia e o discurso que se encontrava impregnado na sociedade contemporânea, mostrando que não existem diferenças a não ser as anatómicas. Foi necessária uma enorme batalha para provar que não eram palavras vãs, mas sim reais e verdadeiras. Esta luta, para o seu reconhecimento, conseguiu frutos que, hoje em dia, todas colhem. Da casa passam para a rua e de recatas passam a activistas.
Inicialmente lutavam pelo direito ao voto ganhando, por este motivo, o nome de sufragistas. Aos poucos outras reivindicações foram conseguidas apesar do caminho ter sido muito tortuoso e cheio de altos e baixos. A origem do movimento remonta à Revolução Francesa cujo lema era a igualdade. As mulheres estiveram sempre inseridas no turbilhão dos acontecimentos, nas mudanças sociais e em todas as revoluções.
Identifica-se muitas vezes, de modo errado a ideia do feminismo como sendo um movimento de cariz sexista, que quer derrubar o homem e colocar a mulher em lugar cimeiro. O que se passa é que o poder instituído pode sentir-se um pouco ameaçado com as alterações que daí possam surgir. O feminismo o que pretende é o seu reconhecimento pela igualdade.
Uma marca forte para que este movimento se tenha tornado popular e visível foi a publicação do livro “O segundo sexo” da escritora Simone de Beauvoir, que fez uma desconstrução da imagem da hierarquização dos sexos provando o que a biologia já tinha mostrado e não a construção social que a sociedade patriarcal durante séculos tinha estabelecido.
Em pleno século XXI, estamos perante uma deturpação do movimento inicial, dos pressupostos que levaram ao mesmo. Surgem pessoas que se escudam com o nome, mas têm posturas em nada semelhantes às iniciais levando a que outras as sigam. Este novo feminismo, de terceira geração, coloca as fasquias erradas e dá início a uma guerra sem sentido.
Quer isto dizer que se criam ódios desnecessários, que se colocam os homens numa posição exclusivamente negativa e nefasta. Na verdade, esta atitude acaba por ser idêntica à do machismo, mas funcionando por espelho. Passam a ideia de que os homens devem ser todos exterminados, que nunca são capazes de uma posição adequada e que a sua presença simplesmente serve para incomodar a mulher.
Tantas conquistas que se conseguiram e acabam por ser menosprezadas e relegadas para segundo plano, devido ao facto de certas interpretações não serem as mais correctas para os contextos. Com o feminismo de segunda geração, tristemente celebrizado pela queima dos soutiens, a luta justa e mais que necessária passou a ser ridicularizada e vista como algo de menor.
Os instintos básicos e primários parecem tomar as pessoas de assalto e as levar a certos comportamentos que pouco parecem ter de humano. A luta, a que se impõe e é urgente, nunca pára. Felizmente que a geração mais jovem já foi contemplada com comportamentos bem mais viáveis e benéficos.
A expressão “ajudar em casa” não se deve nunca colocar, porque quem coabita deve participar nas actividades que digam respeito a todos. A mais valia é de quem aprende e quem sabe ser independente, ensinamento que serve para toda uma vida, nunca será esquecido.
Temos que saber viver em sociedade e os sexos, sejam eles quais forem, terão obrigatoriamente de conviver de modo civilizado. Para quê tantas pequenas questões e contendas que só servem para arder sem chama que possa servir para aquecer? Certas pessoas são mais capazes de umas competências e outras serão talhadas para desempenhar determinados cargos e tarefas. Aceitemos as necessárias diferenças e aproveitemos a vida que, já de si, tem o seu quê de complicado para se estar nela.
Sobretudo não devemos esquecer que os homens são também vítimas de uma sociedade patriarcal perpetuada no tempo, desde um passado longínquo. E são também vítimas por que lhes foi imposto um ideal de masculinidade e das particularidades erradas associadas a essa masculinidade. Mas nem todos os homens se identificam com essa masculinidade tóxica.
Por isto, e sendo o feminismo uma forma de luta para a igualdade de direitos entre mulheres e homens, não se devia extremar ideias e atirar todos os homens para um lugar culposo e desprezível.
Nenhum homem nasce machista ou misógino.
Aliás, as mulheres devem incluir os homens no feminismo, e os homens devem ter iniciativa de se incluir, porque se é uma luta de igualdade, não faz sentido ser unilateral.
É claro que o homem é o principal perpetrador e culpado do patriarcado imposto ao longo dos séculos.
Mas é o homem enquanto entidade de poder criada por si mesmo, e não os homens em geral.
Eu cresci a ouvir coisas machistas e misóginas como: o lugar das mulheres é na cozinha; vais assim vestida?; essa saia é muito curta, etc.
Só somos cúmplices de uma ideia errada que nos passaram , se a seguirmos e acreditarmos nela sem a questionar.
Não só homens como mulheres, ainda têm algumas crenças e atitudes machistas. Existem ainda mulheres que acham erradamente que devem submissão aos homens.
Ao invés de muitas das vezes extremarmos lutas e convicções, devemos primeiro abrir mentes ainda muito fechadas pela educação que tiveram, pelas condições sociais e económicas em que cresceram, pela sua iliteracia ou falta de acesso à informação, e pelo total desconhecimento da história.
Portanto o feminismo deve começar desde cedo, nas escolas, e nas nossas casas.