Another Round (2020) – Crítica

So, when you run around totally wasted, throwing up in bushes and alleys, don’t feel alone, because you’re in great company.

– Martin

Este filme dinamarquês conta a história de quatro amigos, todos professores, que, depois de uma noite de copos, decidem testar manter um determinado nível de álcool no sangue de forma constante e avaliar como isso vai afetar a vida deles, tanto a nível pessoal como a nível profissional.

Adorei este filme. A premissa em si é logo muito original e interessante, embora exista o “perigo” de alguns espectadores tentarem aplicar o que vão ver aqui na vida real, pois é o tipo de filme que “puxa” para isso.

Os quatro atores fazem um tremendo trabalho. Poderia estar aqui a elogiar Mads Mikkelsen, por ser a estrela internacional, mas acho que os quatro são mesmo muito bons e complementam-se para criar um elenco de grupo forte e com uma química genuína. Elementos de direção, representação e banda sonora estão aqui combinados de uma forma muito sólida e com uma mensagem muito própria sobre os efeitos do álcool, o filme é um dos grandes triunfos em combinar uma premissa cativante com uma execução muito competente .

* CUIDADO COM SPOILERS *

O inicio do filme mostra a personagem de Martin como alguém super enfadado com a vida que leva e que parece não ter a alma nem a energia de outrora, e o álcool devolve essa alma e alegria que ele sentiu que tinha perdido. Isto acontece com todos os colegas que a níveis diferente sentem que com o álcool se tornam mais criativos, mais genuínos e por isso mais perto de quem realmente são. O álcool é “conhecido” por fazer com que as pessoas se soltem de maneiras imprevisíveis e que muitas vezes revelam desejos internos mas que são ocultados pelos “filtros da sociedade” e do “politicamente correto” e todas essas noções são trabalhadas e muito bem manipuladas pelo realizador.

O que eu acho muito interessante no filme é que este não segue o caminho previsível. O previsível seria os quatro professores começarem a beber um pouco e sentirem-se muito melhor (isso acontece), depois começarem a beber cada vez mais para se sentirem ainda melhor (isso também acontece), mas acabam por exagerar ao ponto de prejudicar as suas vidas pessoais e profissionais (também acontece). No final, um deles morrer, para dar o exemplo dos efeitos nocivos do álcool (também acontece).

Então, podem questionar-se por que digo que não segue o caminho previsível? Porque o filme não te está a dizer que não deves beber álcool, ou que o álcool é algo indiscutivelmente mau, embora faça tudo isto. Só que também mostra lados positivos e o próprio final (que adorei) volta a mostrar que, tendo que haver cuidados, o álcool pode ser uma componente libertadora que faz a pessoa viver e revelar-se de uma outra forma.

A banda sonora e a cinematografia são um dos grandes pontos fortes desta película que é sempre suportada por esta “experiência social” que vem com a premissa.

A cena final é brilhante, a nível de direção, representação e transmite uma sensação de liberdade como não me recordo de ter sentido em nenhuma cena em cinema nos últimos anos. Um dos melhores de 2020 sem dúvida.

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