Conheci as obras de Gabriel García Márquez, quando estava no décimo ano e o professor nos disse que Crónica de una Muerte Anunciada seria uma das leituras obrigatórias daquele trimestre. Assim que abri o livro, apaixonei-me pela escrita deste autor.
Quase que parece estranho estar a falar deste livro e não de um mais conhecido, como Cien Años de Soledad, ou o prémio Nobel da literatura El Amor en los Tiempos de Cólera. Li os dois, tal como li Memoria de Mis Putas Tristes, Los Funerales de la Mamá Grande, Doce Cuentos Peregrinos, entre outros. Todos fantásticos. Contudo, achei que o mais natural, para mim, seria falar do primeiro livro que li dele, aquele primeiro livro que costuma ser tão importante para nos apaixonarmos por – ou odiarmos – um autor. No meu caso, foi Crónica de una Muerte Anunciada.
A obra começa com a frase:
“No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5 e 30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo.”
Temos, aqui, a morte anunciada (o homicídio anunciado), que continuará a ser anunciada – a nós e a todos os personagens – ao longo de toda a crónica. García Márquez sempre foi um mestre em prender-nos logo na primeira frase e esta primeira frase impede-nos de largar o livro. Queremos saber o que se passou com Santiago Nasar, se a razão do crime de honra é, ou não uma mentira, o que se passou antes e passará depois e porque é que o seu homicídio não foi impedido.
O livro é pequeno, lê-se perfeitamente numa tarde, e, por isso mesmo, não quero contar muito sobre a história. Sinto que, se revelar um pouco, revelarei tudo, e, por essa razão, não direi mais sobre o enredo. Aconselho mesmo, mesmo a lê-lo. Foi baseado em factos reais, sobre um amigo (afilhado da mãe de García Márquez) que foi morto na sua terra natal, na Colômbia. Uma história verdadeira que García Márquez esperou mais de vinte anos até poder contar, por uma promessa que fez à mãe, e que não deixa ninguém indiferente. Os leitores habituais podem contar com um pouquinho de realismo mágico, mesmo nesta crónica (género jornalístico e objectivo). Como? Uma vez que o realismo mágico implica que a magia e o irreal, ou surreal sejam realidade, o autor consegue juntar os dois géneros de forma natural e excepcional.
Gabriel García Márquez era um génio e o mundo da literatura perdeu muito com a sua morte. É avassalador pensar que não escreverá mais. Quase que desejamos que o realismo mágico se estenda além da morte e que lhe permita escrever, para nós, de uma outra dimensão. Talvez possa acontecer, quem sabe? Vamos acreditar. Entretanto, devemos ser felizes pelo legado incrível e importantíssimo que nos deixou e tentar passar às próximas gerações o maravilhoso que será conseguirmos encontrar García Márquez a viver nos seus livros.