Tenho passado a minha vida a vencer batalhas, a ultrapassar barreiras, a sobreviver a rasteiras, a cair, e a levantar-me de novo, a maior parte das vezes com muito esforço e em silêncio. Não costumo anunciá-lo, não costumo levar os meus problemas para os outros, mas isso não dá direito aos outros de pensarem, que eu não tenho problemas, que tudo me cai do céu e que tenho muita sorte, porque ter “sorte” dá muito trabalho.
Suporto os comentários descabidos dos outros, lembrando-me, por muito que me magoem ou irritem, que eu também cometo o erro de opinar e ditar palavras injustas, cruéis e desenquadradas das minhas certezas sobre a vida dos outros.
Tenho bons exemplos de vida, de quem não se acobarda, nem desiste, e que por mais de alto que caia, dá-se tempo, faz o seu luto, lambe as próprias feridas em recolhimento e recomeça quando e o melhor que consegue.
Ter um rumo de vida é extremamente difícil e temos que estar preparados a que qualquer momento, a que por muito que nos preparemos e planeemos, algo pode acontecer e atirar-nos para fora da via, para fora da rota, para longe de quem éramos e do que ambicionávamos ser.
Os planos que fazemos, medindo os prós e os contras e planeando com mais ou menos detalhe, falham ou são até impossíveis de realizar, no momento exacto em que estávamos quase a lá chegar.
Que ninguém se iluda de que há vidas fáceis, sem constrangimentos, sem dores, sem perdas, sem opções. Só cada um sabe as tristezas que guarda dentro de si, há apenas muitos que não se rendem, nem desistem, e se enfraquecem, não o fazem à vista dos outros.
Se queremos ser bondosos, comecemos por nós próprios, aceitar que todos carregamos dores e fardos, mas que para continuar a viver não nos fazemos reféns deles.
E todos os dias podemos ser melhores pessoas, a bondade começa por sermos melhores connosco próprios.
Às vezes basta aceitar que não somos perfeitos, e que nem tudo depende do nosso esforço, nem da nossa vontade, e acima de tudo que ter “sorte” dá muito trabalho físico, cerebral e emocional.