Nos últimos tempos, tenho-me perguntado qual será o verdadeiro limite do sofrimento humano. Será que há uma percentagem para a dor? Conseguimos medi-la, compará-la, classificá-la? E, mais importante, até que ponto conseguimos suportá-la sem que nos consuma por completo?
A tristeza tem camadas, como uma névoa densa que se instala devagar, sem ser convidada. No início, parece passageira. Mas, de repente, já não sabemos quando começou nem se alguma vez vai acabar. Há momentos em que a dor se torna um peso constante, esmagador, como se nos sugasse e nos levasse para um abismo do qual não conseguimos sair. E é aí que surge a pergunta inevitável: há um ponto sem retorno?
A verdade é que, sim, podemos morrer de tristeza. O corpo sente o que a mente não consegue libertar. O coração adoece quando se enche de mágoa, e a alma perde-se quando carrega sozinha o peso do mundo. Mas também podemos, aos poucos, aprender a respirar novamente, a viver sem que cada passo pareça uma batalha. De há dois anos para cá, em alguns dias, senti e sinto uma tristeza profunda, daquelas que nos fazem esquecer o que é sorrir de verdade. Há dias em que consigo fingir, sorrir um pouco, fazer de conta que está tudo bem. Mas há outros em que não quero sequer tentar. Há dias em que me pergunto porque é que um ser humano tem de suportar tanta dor. Será justo? Será necessário?
Não há respostas fáceis para estas perguntas. Cada um de nós carrega a sua dor de maneira diferente. Mas há algo que todas as dores têm em comum: elas não são eternas. Por mais que pareça impossível, a vida tem formas estranhas de nos puxar de volta à luz, mesmo quando estamos convencidos de que já não há mais esperança.
Se sentes que não consegues mais, que só queres que pare de doer, talvez isso signifique que tens carregado mais do que devias, mais do que qualquer um deveria carregar sozinho. Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, mas de coragem. Reconhecer que merecemos mais do que a tristeza é o primeiro passo para nos libertarmos dela.
Talvez a questão não seja “quanta dor podemos suportar?”, mas sim “quanta vida ainda podemos recuperar depois da dor?”. E a resposta é sempre a mesma: mais do que imaginamos. Mesmo nos dias em que não conseguimos acreditar nisso.
Há dores que chegam sem aviso, que se instalam silenciosas e nos envolvem como um nevoeiro espesso, daqueles que ocultam o caminho e nos fazem duvidar se ainda há, de facto, uma saída. No início, parecem passageiras, um desconforto momentâneo. Mas, sem que se perceba, tornam-se presença constante, um peso invisível que se entranha no corpo e na alma. Há quem aprenda a caminhar com ela, quem a esconda sob um sorriso ensaiado, quem tente ignorá-la na esperança de que um dia desapareça. Mas há também quem se perca nela, quem não veja alternativa senão ceder à sua imensidão e por lá ficar, como se não houvesse saída.
E então surge a pergunta: haverá um limite para o sofrimento humano? Será que a dor pode ser medida? Haverá um ponto exato em que se torna insuportável? Ou será que a alma é elástica, capaz de se estender infinitamente sob o peso das mágoas, sem nunca se quebrar por completo?
A verdade é que podemos, sim, morrer de tristeza. O corpo sente o que a mente não consegue expressar. O coração adoece quando se enche de desilusões, e a alma, quando ferida repetidamente, pode esquecer-se de como se reerguer. Mas também é verdade que, por mais devastadora que seja a dor, ela não é eterna. Mesmo quando parece que veio para ficar, a vida tem formas misteriosas de resgatar aqueles que se julgam perdidos. Às vezes, basta um pequeno vislumbre de luz, um instante de alívio, para recordar que existe algo para além do sofrimento.
E, no entanto, há dias em que essa luz parece inalcançável. Há momentos em que se finge um sorriso porque é mais fácil do que explicar a tempestade que se agita por dentro. Outros em que nem fingir é possível. Há noites em que o silêncio pesa como um grito e manhãs que chegam sem trazer promessa de alívio. Há quem passe anos a carregar uma tristeza funda e profunda, sem compreender de onde vem nem como sair dela. E o mais cruel é a pergunta inevitável que ecoa no fundo da mente: por quê? Porque tem um ser humano de suportar tanta dor? Tanta tristeza? Será justo?
Não há respostas fáceis. A dor é solitária, mas é também universal. Cada um sente de forma diferente, cada um enfrenta como pode. Mas, por mais que pareça impossível, uma coisa é certa: nenhuma dor dura para sempre.
Se um dia o fardo se tornar demasiado pesado, talvez seja hora de pedir ajuda. Não porque seja fraqueza, mas porque ninguém deve caminhar sozinho na escuridão. E, quem sabe, o primeiro passo para vencer a tristeza seja simplesmente aceitar que ela existe, mas que não define ninguém.
Talvez a pergunta não deva ser “quanta dor podemos suportar?”, “quanta tristeza aguentamos?”, mas sim “quanta vida ainda podemos recuperar depois dessa dor?”, “quantos momentos felizes teremos depois dessa tristeza?”.
E, por mais difícil que seja acreditar, a resposta será sempre mais do que imaginamos. Mesmo nos dias em que tudo parece perdido. Basta acreditarmos!