
Há dois tipos de pessoas no Mundo:
(há mais, mas para aqui só serão chamados 2, porque quem escreve pertence a um de dois tipos de argumentadores: os que discorrem e os que enumeram. Claramente, quem redige este artigo só pode pertencer aos que: 1 – enumeram)
1 – os que usam a casa de banho de alguém e não resistem a colocar a folha do rolo de papel higiénico a sair pela frente;
2 – os que vendo a folha virada para a frente, não resistem a virar o rolo ao contrário!
No caso dos primeiros, podemos presumir que sejam obsessivo-compulsivos, com mania de organização, possivelmente gostam de ter a última palavra nas discussões e seguramente são nazis da gramática.
Quanto aos segundos, pertencem a um seleto grupo de indivíduos que desde tenra idade desafiavam a autoridade, perguntando sempre ao Professor “Porquê?” – mesmo quando a resposta era “da convenção”. Tive uma Professora de Linguística que, quando se enredava em argumentos e levava com contra-argumentos e já não sabia sair dali, fulminava-nos as cabecinhas curiosas com um “Porque é da convenção!” – assim mesmo, cheia de exclamações. Adorávamos.
Este último grupo carece de designação. Carecia, porque hoje tentaremos classificar a família, espécie, subespécie… deste grupo de vertebrados. E olhem, já começamos: vertebrados e de sangue quente!
Dos cinco tipos de vertebrados: mamíferos, aves, répteis, peixes e anfíbios, encaixam quase sempre nos mamíferos. Quase sempre, porque nenhum deles precisaria de papel higiénico (bidés, deixo aqui a sugestão) e só os mamíferos com polegares oponentes é que acham piada a escarafunchar as partes íntimas com folhinhas mais ou menos macias, simples, duplas e até triplas(!), com aromas (!!) ou recicladas (sim, adivinharam: 3!!!)
Portanto, já temos um início de categorização Darwiniana. Sigamos:
– Como nascem? Nascem da necessidade de agitar as hostes. Basicamente isto. São os que pensam fora da caixa, vão para baixo dela e quase sempre nem é para pensar, é para que se ande à procura deles a desesperar, aos gritos “André, onde te meteste filho? Olha que as visitas estão a chegar!” só para que a mãe saia daquele modo automático e que “há-de-achar-piada-quando-eu-for-grande-porque-de-certeza-vou-ficar-com-o-rabo-quente-hoje”.
– Cobertura do corpo. Às vezes cobertos, outras vezes não, que são bicheza que não dá tréguas a estas coisas de mexer com a cabeça do outro. Nunca baixam a guarda, não limpam armas porque estão sempre em modo bélico. Há de ser preciso entrar em ação mesmo quando, despidos, enveredam pela desconstrução entre 4 paredes, na intimidade.
–Alimentação. Não consta que sejam picky, esquisitinhos com o que marcha. Literal e metaforicamente. Se é que me entendem. Provam Michelin ou Sheila flavour e ficam saciadinhos no fim de qualquer uma das iguarias. Afinal, como manter a mente aberta se assim não for?
– Como respiram? Quase sempre como as senhoras nas aulas de Pré-Natal. Fchu, fchu,fchu, fuuuuuuuu. Hihihihi, iiiiiiiiiii. Também são mestres na arte de suster a respiração. Em reuniões importantes colocam questões desconcertantes, lançam temas disruptivos e reclinam-se nas cadeiras contemplando o caos, com sorriso mental e respiração retida, só pela piada da coisa.
– Locomoção? São rápidos. Ninjas. Rápidos e furtivos. Ou acham que ter pensamentos destes enquanto se executa um chichi ou pior, um “número 2”, e se estica executando movimentos tomcruisianos de missão impossível para fazer rodar o rolo (às vezes sabe Deus como funcionam aqueles suportes, só a base de dados dos retalhistas de móveis de banho que tem que decorar…) e colocá-lo na posição desejada! Arte, meus amigos. Pura mestria.
Resumindo, se se encontram no segundo grupo, parabéns. Se são do primeiro deve ter sido humilhante ler sobre a vibrante vida dos segundos, não foi? Agora vão lá comprar papel higiénico húmido e não pensem mais nisso!
Na realidade, parece que pela lógica da pragmática, e seguindo as leis da física, é mais vantajoso que a folha saia pelo lado da frente.
Por isso eu diria que a espécie do grupo 1, sendo que o contexto se desenrola na habitação alheia , seriam classificados como os bons samaritanos da higiene pós-defecanço do próximo. Já os do segundo grupo, tendo em conta a sua vida vibrante, seriam então classificados de sabotadores do excretar alheio/ thug-life/ só para chatear.
De qualquer forma, sou apenas um leigo na matéria que adorou a eloquente construção desta dissertação.
Será que existe um guia de locais com estrelas Sheila flavour?
Sendo muito favorável à lógica da pragmática e seguidora das leis da física, confesso que me corre nas veias sangue tom de sabotagem…eloquente foi a sua dissertação daquela construção, Hugo!
Obrigada pelo feedback.
(Consta que Sheila flavour se consegue em regime take away…)
Ora essa, Mónica! Fiquei seu fã.
Também sou pessoa para ter uma costela de sabotador…
Grato também pelo seu “foodback” ( it you know what i mean ) . Boas escritas, e um excelente 2022.