Este ano tive umas férias de repetição. Isto, dito assim, sem anestesia nem nada, pode parecer tolo, mas passo a explicar. O ano passado tinha planeado visitar uns certos locais, mas o carro, uma simpática carrinha adolescente de 15 anos, fez o favor de entrar em velhice profunda, com Alzheimer informático e não permitiu que tudo acontecesse como se desejava.
Assim sendo, regressei aos locais que tinham ficado em suspense e valeu a pena tanta espera. Não que fossem melhorar, o que seria impensável, mas o que ofereceram foi tão agradável e gratificante, que o tempo ajudou a curar a falha. Pertenço a um não grupo, ou seja, não me encaixo em nenhuma das supostas definições de loucos por férias.
Para mim, férias é sinal de sair de rotina e, para ser sincera, a praia há muito que deixou de ser a minha praia. Um bom trocadilho que me serve bem. Estar horas estendida ao sol, qual sardinha maluca, não me assiste. A água do mar, que eu apreciava em qualquer altura, agora sabe-me a muito sal e muito pouco quente. Isto no Verão, que as caminhadas no resto do ano, pela areia onde ficam as memórias de férias idas, são sempre gratificantes.
Na verdade, moro perto da praia e posso usufruir do seu salutar lado em todas as estações do ano. Não quer isto dizer que certas praias não tenha encanto para um dia me fazer visitar. Veremos. O calor cansa-me e desgasta-me, por isso, será o tempo perfeito para outras actividades em que me possa mexer.
Santa Maria de Naranco, em Oviedo, andava a chamar por mim há muito. Foi desta que a visitei. Uma igreja pré-românica que foi, originalmente, o palácio do rei Ramiro I. Tem a sua construção datada de 842 e o estado de conservação é perfeito. Um pouco mais acima, San Miguel de Lillo, mandada construir pelo mesmo rei, mostra a sua beleza e esplendor. Velhinha, de 848, olha de caras para os visitantes, com uma certa arrogância.
Contudo, não foi somente nas Astúrias que soltei o elástico que andava preso. A Galiza, que nunca me desilude, teve também as visitas que estavam em falta. E por certos locais a água é que comanda e faz aconteceu. Viver ainda é uma aventura e saber como os antigos, aqueles que sobreviveram e se mantiveram nas montanhas e vales se desenrascavam para sobreviver, é obra.
O conjunto etnográfico de Teixós é um excelente exemplo. Perdido num vale bem encaixado, é um pequeno paraíso que persiste devido à carolice do Luís, o último ser nascido na terra. É ele o guia, o mestre e o mentor. Não se pode deixar morrer esta maravilha histórica. Ainda as outras aldeias não tinham electricidade e já esta se podia orgulhar de ter essa magia a funcionar. Tudo devido à água que permitia a continuidade da vida aqui.
A visita é feita em grupo e, desta vez, entendi que devia levar os meus cães. O mais curioso é que foi o cão o ouvinte mais atento, na primeira linha e cheio de vontade de saber mais. Se alguém fazia barulho, olhava para essa pessoa com ar reprovador. O facto de a visita ser numa outra língua é irrelevante. que o saber não tem barreiras nem fronteiras.
Mesmo junto a esta pérola, um pequeno museu etnográfico tem em mostra os utensílios de outrora, as formas de viver, os modos de se estar e as artes que se foram desenvolvendo nas serras que têm Inverno durante quase todo o ano. O valor é incalculável e conta a vida, naquelas serranias, durante anos.
Para finalizar, nesta zona que estava tão estranha como um ponto negro que não quer sair, o Museo de Los Molinos Mazanovo. Um local muito aprazível, que reúne dezanove tipos diferentes de moinhos de água. Um recinto fresco e bonito, mas que, na minha opinião de curiosa e sedenta, peca pela falta de informação mais detalhada. Contudo vale bem a pena, pois é um pequeno paraíso a céu aberto.
Como seria de esperar, andei por muitos outros locais e até repeti uns quantos, que são bem gostosos de se saborear. O certo é que estes estavam espetados no meu querer, assim como uma espinha de bacalhau, das grossas, mas agora já só me fazem sorrir. Tudo corre melhor com leveza.
O que notei este ano foi um maior interesse pela natureza e o regressar às formas mais básicas e económicas de viajar, que são os parques de campismo, para quem tem tendas ou carrinhas e as zonas de autocaravanas, que têm a sua autonomia, existindo algumas com piada. Tudo cheio, muito cheio e a abarrotar.
Este tipo de férias tem as suas particularidades e os vizinhos tanto podem ser uns simpáticos que estão na sua vida, como uns terrivelmente pândegos que só pensam em beber e comer. Porém, aprende-se sempre e um balde de tinta, de 25 l, cheio de gelo, dá uma excelente mala térmica. As cervejas gostaram. O melhor é que os miúdos, os mais novos, aprenderam a brincar e não usam nem telemóveis nem querem saber da televisão. Pior: gostam de ler!
Claro que tive todo o tipo de peripécias, incluindo ter de dormir fora da zona de conforto, o que é perfeito para se experimentar, bem como descobrir pequenas pérolas históricas que são de deslumbrar. No entanto, o todo foi muito positivo. Tive a sorte de me cruzar com pessoas fantásticas, amigas de ajudar o seu amigo e com um sorriso sincero de coração aberto.
O melhor? Os cães que não se cansam de alinhar com os donos malucos que gostam de trepar a castelos, descer a grutas, caminhar sem parar e entrar em locais que faltam palavras para os classificar, de tão deslumbrantes que são. Férias são o verdadeiro sinónimo de renascer.