Quem quer saber debates eleitorais?

Está aberta a corrida às eleições legislativas que se realizam no dia 18 de maio. Falar em corrida pode parecer exagerado, uma vez que tal exercício físico ou mental, exige energia, estímulo e velocidade. Neste caso tais ingredientes apresentam-se em versão slow motion com a recetividade típica do “Quero lá saber!”

De 07 de abril até 08 de maio, as estações televisivas apresentam os tradicionais debates com os líderes dos partidos políticos que se apresentam às urnas. Desde os pares mais consensuais aos mais belicosos, o objetivo é argumentar, defendendo as respetivas causas e apresentar medidas concretas a serem postas em prática.

São apresentadas diferentes propostas, estilos de liderança e posturas diante de temas relevantes para o país. Os debates eleitorais televisivos constituem um dos raros momentos em que os candidatos são confrontados diretamente, entre si e perante o público. Neste cenário disputam-se a credibilidade, o domínio retórico e a capacidade de liderança.

Transmitidos em horário nobre e com ampla repercussão nas redes sociais, estes eventos funcionam como barómetros da opinião pública. Embora não substituam o conjunto mais amplo de ações de campanha, os debates têm o poder de revelar “nuances” e fragilidades que a propaganda oficial costuma esconder sob o véu da edição e da construção da imagem.

Entretanto, o potencial formativo dos debates enfrenta tensões face à lógica televisiva do espetáculo. A busca de audiência, o ritmo acelerado e o apelo a momentos “virais” tendem a favorecer o confronto superficial em detrimento da exposição aprofundada de ideias.

A presença da televisão — e, mais recentemente, das redes sociais — transforma substancialmente o ambiente dos debates. A lógica do espetáculo, como aponta Guy Debord (1997), impõe uma inversão de valores, na qual a imagem e o impacto simbólico se sobrepõem à profundidade e ao conteúdo.

Deste modo, a crescente influência da lógica mediática no desenho e na condução desses debates, levanta questões cruciais, como, até que ponto tais eventos contribuem efetivamente para a deliberação democrática? Ou constituem apenas espetáculos de retórica?

Apesar das fragilidades destes shows, mais ou menos encenados, o seu valor democrático é indiscutível. Os debates representam ou deviam representar uma oportunidade de observação direta em que o eleitor pode avaliar não apenas promessas, mas também comportamentos sob pressão, preparação prévia dos intervenientes, capacidade de escuta e respeito pelo contraditório. Além disso, promovem, na teoria, um espaço onde mesmo os candidatos de correntes políticas sem assento parlamentar podem ganhar algum destaque. Veja-se o caso do último debate que ocorrerá no canal RTP a 08 de maio no qual se espera que aqueles que “não têm voz”, possam expor as suas propostas.

Segundo Sartori (1994), a democracia pressupõe um eleitorado informado, capaz de julgar não apenas promessas, mas também coerência. Os debates tornam-se, nesse sentido, instrumentos de responsabilidade pré-eleitoral, onde se testam a clareza argumentativa e a capacidade de reação dos candidatos em situações de tensão.

Também, convém lembrar que, mesmo em ambientes polarizados, os debates podem funcionar como momentos de fragilização das narrativas unilaterais, obrigando os candidatos a dialogar com diferentes visões e públicos. Como argumenta Dahl (2001), a democracia pressupõe pluralidade de vozes e competição aberta, princípios que os debates, ainda que imperfeitamente, tentam preservar.

A presença da televisão e, mais recentemente, das redes sociais, transforma substancialmente o ambiente dos debates. O batalhão de comentadores, fará o seu papel de análise, sugerindo, mesmo vencedores e derrotados. É uma dinâmica que, como aponta Guy Debord (1997), impõe uma inversão de valores, na qual a visibilidade e o impacto simbólico se sobrepõem à profundidade e ao conteúdo.

Cabe à sociedade, eleitores, media, e instituições, zelar para que estes momentos não se reduzam a duelos vazios, mas se consolidem como instrumentos efetivos de cidadania crítica e escolha consciente.

Por sua vez, os eleitores estarão, mesmo interessados? Querem ouvir, ou terão mais o que fazer? A conjuntura atual favorece o debate, ou, antes pelo contrário, esvazio-o no circuito lento do inevitável rotativismo? Será sempre mais do mesmo no sentido da fragilidade do sistema democrático?

– BEBORD, Guy Debord, A sociedade do espetáculo, (1997).

– SARTORI, Giovanni, A teoria da democracia revisitada (1994).

https://expresso.pt/politica/2015-08-30-Para-que-servem-os-debates-

https://www.politize.com.br/debates-eleitorais/

“Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico”.

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