Machismo, uma palavra gasta e malcheirosa, repetida com razão ou sem ela. Domínio do macho e aceitação da fêmea. Revolta e raiva. Patamares que se pensavam já estar atingidos, mas os retrocessos insistem em se vincar.
Basta uma simples viagem de um qualquer transporte público para se entender como os velhos preconceitos, os que se pensavam estar sanados, estão de pedra e cal. O período de confinamento foi fértil para o regresso ao passado e, sem um travão musculado, ganha terreno para continuar.
Quando estava de férias, na Galiza, reparei numas inscrições, em vários locais bem visíveis, que alertavam para o assunto. Primeiro pensei ser um exagero, uma forma de responder a temas mediáticos, mas, rapidamente, percebi a crescente preocupação.
Este ano têm morrido muitas mulheres às mãos dos seus companheiros, maridos ou outro nome que se queira dar. Lamentável e triste. Evitável. Onde anda a educação e a sensibilidade? Uma mulher que se entrega a um homem é sinal de confiança e de porto seguro. Só que não.
Confiar é palavra vasta que se veste de tantos conteúdos. Amor seria o elo para estes casais, mas a falta de maturidade emocional e uma enorme infantilidade, custa a crer mas é a mais pura das verdades, leva a estes comportamentos irracionais e animalescos.
Basta recordar que há cerca de um mês houve um homicídio à frente de muitos. Em Odivelas, um conhecido casal, desentendia-se amiúde e naquele dia o tom subiu. Houve quem tivesse o desplante de filmar o ocorrido e não teve coragem de intervir. Ou vontade. Sinais de tempos fúteis e bacocos.
Ela foi morta com um vidro de garrafa que ele, perante muitos, lhe partiu na cabeça. Será que lhe teria dito que o ia deixar? Qual terá sido o rastilho de tal brutalidade? Inenarrável e sem qualquer desculpa. E tantas testemunhas com telemóveis na mão. intervir? Isso é de filme.
Um destes dias, em viagem de metro oriundo de uma conhecida faculdade, dois estudantes comentavam as praxes e as colegas. Elas, para eles, não são colegas, as futuras engenheiras, as médicas, as químicas, as gestoras ou quaisquer outras profissões. Nas suas bocas são somente boas ou “gajas”, pedaços de carne que servem para os satisfazer.
Sem qualquer limitação de linguagem, todos tivemos o privilégio de saber o que gostariam de fazer com quem. A vergonha é coisa que não lhes assiste e muito menos a dignidade, pois até se deram ao desplante de trocar uns truques para as embriagar.
Confesso que, por momentos, pensei estar num filme americano de categoria duvidosa, só que não. Que educação têm estes jovens? O ambiente familiar é primordial e certamente que não nasceram de uma couve. A formação de um ser necessita de atenção e firmeza. Estimados pais, então?
Não foi o choque que me impeliu a ouvir a conversa, mas, sim, a necessidade de me inteirar da grandiosidade do descalabro. Uma outra passageira estava horrorizada e não era para menos. Outro jovem bebia avidamente da sabedoria dos seus heróis. Que ridículo e atroz!
Que tenha presenciado mulheres a servir os homens como se estivéssemos nos tempos idos, já é assustador, mas ouvir os novos cidadãos a delinear estratégias para “engatar as gajas pra cama”, como se estivessem em casa, em amena cavaqueira, falta-me o tom de palavra que os possa desclassificar.
Numa esplanada, outros jovens, mais velhos, relatavam as aventuras de férias com as parceiras. Entre as palavras mais desabridas e pouco elogiosas, elas eram o mais rasca que existe, mas sem nome, apenas carne para canhão. Em tom bem elevado para se tornar credível.
No final, fiquei em crer que eram apenas sonhos que partilhavam e pouco mais. Sem a menor ponta de dignidade nem educação, ali estava um ramalhete de engenheiros e doutores que irão governar esta casa. Talvez ainda estivessem todos por se estrear, mas contar balelas é uma ceninha muita fixe. Tá-se!
É assim o futuro? Sem respeito nem honra? Que pensam, estas criaturinhas, das suas mães, irmãs, primas, tias, avós e amigas? Amigas… pois… sabem lá o que isso é, são gajas que isto dos seres ditos humanos…é coisa bem complexa e deselegante. Um ponto tem a seu favor, não são sonsos e muito menos hipócritas. Tudo claro como água, quando pensam que ninguém os ouve.