A importância do salário mínimo é algo transversal à sociedade. Sobretudo, porque afeta todas as capacidades do cidadão, nomeadamente a capacidade de poder adquirir bens, serviços, capacidade para investir, para poupar, enfim para fazer da pessoa aquilo que ela própria almeja.
Está bom de ver que tudo isto é uma utopia inventada, por alguém que, como eu, se senta a escrever um qualquer artigo. O propósito primário desta solução é, sobretudo, ser um instrumento do Estado para regular a relação de trabalho, sempre desigual, entre empregador e empregado. Não sendo necessariamente a única, é, sem dúvida, das que mais afeta o empregado. Apesar do que já foi dito, podemos e devemos também olhar como o salário mínimo impacta as relações do cidadão, a sua capacidade ou não de se integrar culturalmente, de atingir uma emancipação, que o/a leve a querer evoluir em todos os aspetos quer da sua vida social ou mesmo privada. Tudo isto, parecem questões laterais, mas, a meu ver, não o são.
Desde 1977 que existe este conceito em Portugal. Primeiro para a agricultura, depois estendendo às empregadas domésticas e por aí fora, evoluindo com a própria sociedade portuguesa até aos dias de hoje. Uma economia, que foi mudando ao longo do final do século XX, para deixar de ser produtor e passar a ser, sobretudo, uma economia de serviços. Refletindo assim, a perda de importância do setor das pescas e da agricultura, dando lugar ao crescimento do setor têxtil, mas sobretudo do setor do turismo. O grande motor da nossa economia do século XXI.
A bolha imobiliária que surgiu em Portugal por volta de 2008, tendo o seu expoente máximo, ou mínimo, conforme a perspetiva, em 2011, aquando da chegada da afamada Troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia), levou a que muitas famílias perdessem a sua habitação e que ainda mais fossem empurradas para fora das cidades, dando origem ao fenómeno de aumento do preço do metro quadrado bem como subsequente aumento das rendas a pagar. Esta especulação imobiliária que tem vindo a fazer com que, cada vez mais pessoas vivam mais longe dos centros urbanos onde laboram, leva ao decaimento abrupto da qualidade de vida, ao aumento da emigração e também da confiança que cada português deposita na prosperidade do seu país.
Este cenário é mais complexo e mais vasto do que o tema aqui tratado. Bem sei, mas na verdade, o salário mínimo, é o transporte que nos leva a todo o tipo de realidades dentro da nossa vida comum. Na minha opinião, a utopia de um certo espectro político, faz com que uma parte significativa da população portuguesa viva do estado ou com um bom apoio do estado. De modo que o peso dos gastos com a função social do estado é brutal em comparação com o PIB português. Mais ainda, esta realidade leva a que se deteriorem as condições de serviços públicos, em todas as áreas do estado, um convite ao compadrio e á gritante falta de meritocracia que extrapola depois para o restante da nossa sociedade civil.
A minha conclusão é simples, a incapacidade estrutural deste país em fazer funcionar o tal elevador social é estrutural. Assim sendo, é importante mudar o tecido empresarial com pessoas com maior formação, para que depois isso transpire para o pessoal operacional e que a transformação necessária para responder ao emprego no futuro seja colmatada. A cultura, a que eu gosto de chamar do “poderzinho”, é maniqueísta, perversa e corrói as empresas por dentro e a expectativas de quem quer viver neste país.