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Um Outro Lado de Barcelona

O Verão de 2003 foi húmido em Barcelona: é o que melhor recordo da semana em que visitei a capital da Catalunha. Saímos de autocarro pelas oito ou nove da manhã e às cinco e meia parávamos em Madrid para um passeio, jantar e novamente passeio. Pela meia-noite arrancámos e não preguei olho quando, ao começar a desmaiar no sono, entrámos com o sol no nosso destino, uma residência universitária no centro da cidade: deveríamos ser uns trinta entre atletas, equipa técnica, direcção e sócios. A equipa de futebol de juvenis do CDCE ia participar num torneio de Verão e eu, como sócio, garantira viagem, estadia e alimentação para uma semana por uma quantia irrisória!

Não me recordo dos jogos da equipa nem da cidade pois não visitámos a Sagrada Família, La Pedrera ou a Casa Batlló nem fomos ao Parque Guell. Lembro-me, na hierarquia de prioridades dos meus 22 anos, da majestade do Nou Camp e do Estádio Olímpico.

Contudo, a exploração cultural da cidade não ficou por aqui… na nossa residência também estava hospedada uma formação de jovens suecas (o torneio tinha uma competição feminina) e, enquanto o corrupio de camas a arrastar e portas a bater que todas as noites terminavam no ranger da velha mobília (o DA, do staff do clube, tinha levado um saco de preservativos para distribuir pelos putos) acontecia paredes meias com os corredores da residência, os mais velhos – o L e o ZL, que estavam no mesmo quarto que eu, o DA e o filho, JDA – saiam em peregrinação pelos “santuários nocturnos” da cidade, explorando o outro lado da arte da Barcelona daquele tempo.

Dia após dia, eu ia ouvindo as histórias que me iam contando… entrámos aquifizemos assimeste gajo envergonhou-me… até que, chegada a última noite, resolvi juntar-me à troupe. Nunca antes eu havia visitado um templo daqueles e, após perguntarem ao taxista qual era a melhor capelinha, ele sai-se com um Bailén 22, dizendo, no segundo anterior a beijar as pontas do dedos, Qué chicas!

A lembrança que o ZL trouxe de Barcelona e me ofereceu ainda no autocarro, ao entrarmos em Lisboa

Após deixar 20€ à entrada, restaram-me 5€! Mal as portas se abriram de par em par, foi todo um novo mundo que entrou na minha vida! A estranheza ao observar a facilidade com que tudo acontecia, as fragâncias que se entrelaçavam à medida que as personagens se iam passeando, os shows que aconteciam ali ao lado, numa mesa, coluna ou balcão, as tendas com as cortinas que se fechavam para voltarem a abrir 20 minutos e 160€ depois… essa estranheza só foi superada pela persistência com que me pediam para lhes pagar um copo: no meu castelhano macarrónico, eu bem insistia que só tinha 5€ mas nenhuma levava a sério as minhas palavras… não acreditavam que eu estivesse teso (financeiramente falando, leia-se). A uma cheguei a ter que mostrar a carteira gerando o seu imediato desaparecimento! Tivesse eu descoberto a técnica mais cedo e ter-me-ia poupado a muitas recusas naquele consultório de encontros imediatos.

O ZL só dizia Ó L, parece que tenho mel!… Quanta ilusão…

Aprendi naquela noite que amarrar a vista ao chão constituía a melhor forma de não ser interpelado.

O resto da cidade já devia ser bonita naquela altura, mas só dez anos mais tarde tive oportunidade de voltar e apreciar o que toda a gente vê, para concluir que prefiro Madrid. No entanto, aquela semana no Verão de 2003 foi uma experiência em que recordo um clima de muita humidade.

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