Desde algum tempo que a cada semana se descobre um novo caso envolvendo um ministro ou um secretário de Estado. Aliás, as exonerações desde que o Governo iniciou a legislatura já se contam em 13 pessoas, resultando numa média de uma pessoa por mês.
A avaliar pelas notícias, o sistema político está corrompido e sem qualquer solução. As notícias revelam que existem 500 000 euros para que uma pessoa desocupe um posto de trabalho, enquanto outras contam a dura realidade de centenas de pessoas com salários cortados ou que passam ao desemprego.
É o país que vive em duas realidades: a das elites e a dos outros. O país onde um jovem de 21 anos sem experiência profissional passa para adjunto do Gabinete da Ministra da Presidência pela “adequação do perfil” enquanto um número significativo de pessoas, algumas licenciadas, mal sobrevivem com um salário mínimo. À parte de estar integrado nas estruturas do PS, o que tem um jovem recém-licenciado a acrescentar àquele Gabinete?
É sabido que um dos motivos para a desinteresse na política, que mais se reflete nas eleições, justifica-se pela falta de representatividade que a classe política tem demonstrado. Há um distanciamento entre os deputados e a população que representa. Quantas pessoas nas listas eleitorais são conhecidas pela maioria dos respetivos eleitores? A culpa é do sistema político que passou a ser anacrónico ou das pessoas que o compõem?
Os regimes políticos caem, quando um povo desiste dos mesmos, na sequência da inépcia das elites governativas. Quando os políticos estão mais preocupados em clientelas, pagar favores políticos e pessoais, olvidando que o cargo que ocupam é de representarem o povo pelo qual foram eleitos, então a democracia deixa de o ser e inicia-se o processo de desligamento entre governados e governantes.
Numa tentativa de aproveitamento, os partidos populistas apresentam-se no discurso mediático como alguém diferente do sistema (seja lá o que eles entendam por sistema) e que representam o povo, o verdadeiro povo (mais uma categoria abstrata usada para amalgamar um conjunto heterogéneo). São eles, a voz dos que não a têm. Curiosamente, quando atingem o poder no sistema que tanto criticam, mudam os discursos de antissistema ou introduzem um inimigo, sempre abstrato o suficiente para determinados grupos sociais se enquadrarem nos atos que esse inimigo produz e, assim, se perpetuarem no poder (ou sistema).
O que verificamos atualmente, com a generalidade dos regimes democráticos, é este desligamento provocado pelas elites. Não parte dos representados como os meios de comunicação tanto nos querem fazer crer, porque as pessoas acreditam na democracia, porém não confiam nos políticos. Acreditam nas instituições democráticas, mas não se fiam nos indivíduos que as ocupam. Por isso, preferem nem se dirigir às urnas de voto.
Facilitar o voto pode contribuir para reduzir a taxa de abstenção, mas não é suficiente quando o problema está em quem ocupa os cargos políticos. Facilitar e promover a interação entre deputados/políticos e representados seria um primeiro passo, mas não resolveria o problema.
Podemos encontrar como uma das definições de ministro como um “servidor”, ou seja, aquele que serve, providencia ou fornece. O problema atual das democracias é com os políticos profissionais que perspetivam nas estruturas governativas do Estado uma fonte de proveito próprio, nas quais se pode servir e fornecer favores.
A chave de ouro para a sobrevivência da democracia é ter políticos que servem mais do que se servem. É estar nos cargos governativos de modo a contribuírem para o bem-estar geral e não apenas o familiar. São os casos e “casinhos” de partidos que se pensam donos do Estado que matam a democracia.