Oposição política ou hostilidade gratuita?

O multipluralismo partidário é uma das grandes conquistas das sociedades livres, onde a democracia impera e permite que todas as facções políticas estejam representadas no parlamento. Aos vários partidos políticos, eleitos em sufrágio universal, é dada a oportunidade de exporem as suas propostas consoante os princípios que estruturam a base desse partido. Assim, de um lado temos o partido que está no poder e do outro as facções políticas da oposição que apresentam contrapropostas ou apoiam as medidas sugeridas pelo partido no poder, sendo nesta dualidade que se baseia o exercício da vida política.

Porém, em Portugal este jogo de forças entre os dois campos – os que estão no poder e os partidos da oposição – assume, muitas vezes, contornos de guerrilhas de palavras e acusações mútuas transformado o parlamento num campo de batalha, onde a hostilidade gratuita e o ataque pessoal é mais vezes a regra do que a excepção. Aqui fazer oposição significa afirmar os pontos em que as ideologias políticas são diferentes, ignorando o caminho que pode ser feito em conjunto.

Actualmente, os partidos que compõem a fileira da oposição – Partido Socialista, Bloco de Esquerda e Partido Comunista – são partidos mais virados à esquerda. Com uma ideologia que se centra na procura da igualdade e justiça social, a política defendida por estes grupos entra em conflito com a doutrina defendida pela maioria PSD/CDS-PP assente no capitalismo e promoção da iniciativa privada em detrimento do papel do estado. Contudo, nem só de querelas entre ideologias diferentes se faz a política por cá, também entre partidos da mesma cor políticas existem disputas, especialmente à esquerda.

Acérrimos defensores de uma política mais social e virada para o homem em detrimento do lucro desmedido, os comunistas são totalmente aversos a qualquer coligação de esquerda que comprometa a ideologia concebida por Marx; o bloco de esquerda, uma variante socialista menos radical e aberta a todos, ambiciona chegar ao poder sozinho sem servir de bengala ao maior partido da oposição: o PS. O centrismo a pender para a esquerda é o que define os socialistas que esporadicamente vão tentando uma aproximação, sem grande sucesso.

Já na direita, PSD e CDS-PP encontram, de forma recorrente, um modo de limarem as diferenças, mas habitualmente para seu proveito próprio. Se aos partidos de esquerda, de segunda linha, a função de bengala é um lugar indigno, para o CDS-PP esse é um papel que deve ser desempenhado com muito orgulho, nem que para isso a inércia ou a atitude à Pôncio Pilatos seja um dos requisitos.

 Portanto, ser oposição em Portugal é dar primazia a estes jogos de poder, exibicionismos e egos inchados, quando o bem-estar do povo não tem cor política ou uma ideologia dominante. É um direito básico e essencial que não deveria ser motivo de discórdia entre os grupos políticos, mas sim o ponto de partida para o entendimento e o consenso.

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