Há certos conceitos no mundo automóvel que são intrinsecamente errados. Exemplos desses conceitos são a existência de um Ferrari hibrido, de um Bentley a diesel, ou (a heresia das heresias) de um Rolls-Royce desportivo. Mas espera, a Ferrari tem um hibrido e a Bentley um a diesel e ambos provaram ser um grande sucesso. Será um Rolls-Royce desportivo algo assim tão descabido? Que entrem os Black Badge!
Antes de mais, vamos já destruir certas ideias. Se estão à espera de um Rolls-Royce com motor traseiro, barulhento, 1500 cavalos de potência e capaz de atingir os 400 km/h, esqueçam essa ideia. Não existe e nunca vai existir. O que existe são modelos da marca de Goodwood com ou mais potencia ou uma afinação diferente. “Mas porquê?”, perguntam os leitores, com toda a propriedade. Um Rolls-Royce não é um carro para andar depressa, muito menos para ter um caracter desportivo. E é aqui que damos graças aos Deuses do mundo automóvel por a Rolls-Royce não fazer as coisas às três pancadas. Os Black Badge cumprem um papel muito importante na marca de Goodwood: rejuvenesce-la. A Casa de Rolls chegou à conclusão que a grande maioria dos proprietários dos seus carros tinha mais de 45 anos e isso não caiu bem. Gizou-se, então, um plano para baixar essa idade, criando uma linha mais desportiva dos modelos: os Black Badge.
Por enquanto, ainda só há três modelos com o tratamento Black Badge (BB): o Ghost, o Wraith e o Dawn. Comecemos, então, por ordem cronológica. O Wraith BB, não apresenta aumentos de potência, já que 620 são mais que suficientes para um Rolls-Royce. O que apresenta é uma um aumento do binário, dos 800 para os 870 Nm, e afinação da caixa de velocidade e da suspensão diferentes. A caixa de velocidades mantém as mesmas 8 relações, que agora são mais curtas, continuando a não ser possível controlar a passagem (essa tarefa tão plebeia). Já a suspensão é mais rígida para permitir que o carro adorne menos nas curvas. Tanto o binário máximo e a potência estão disponíveis a uma rotação mais baixa.
Já o Ghost BB, por sua vez, levou tudo a que tinha direito. Um aumento de potência, dos 560 para os 605 cavalos, e de binário, dos 820 para os 840 Nm, e uma afinação da caixa de velocidades (a mesma do Wraith BB) e da suspensão diferentes, para impedir o Ghost de adornar tanto nas curvas. Curiosamente, tanto a potencia como o binário estão disponíveis a uma rotação mais alta. E finalmente temos o Dawn BB, a versão descapotável do Wraith, que levou as mesmas alterações do Ghost.
Exteriormente continuam iguais, com apenas alguns detalhes a terem sido alterados para distinguir dos Rolls-Royce “normais”. Exclusivas para a gama Black Badge estão umas jantes de metal e de fibra de carbono de 21 polegadas, a que se junta a grelha frontal e a Spirit of Ecstasy pintadas em preto. Finalmente, os badges da marca viram as suas cores trocadas, passando a ser pretos e prateados. Em opção há a hipótese de os cromados serem pintados de preto. De série vêm também pintados de um preto profundo que dá a sensação de absorver a luz. Porém um Rolls-Royce é para ser apreciado do interior. A pele abunda, e continua a ser possível escolher qualquer cor para o interior. Podíamos perder-nos nos pequeninos detalhes que adornam o carro, como as costuras ou o Spirit of Ecstasy impresso na pele. Contudo, o que não podemos ignorar, é mesmo bastante difícil de ignorar, é a ausência da madeira, tão tradicional num Rolls-Royce. As madeiras foram substituídas por um material a que a marca de Goodwood chamou fibra técnica, que não é bem fibra de carbono, mas é bastante parecido e que surpreendentemente não destoa nesta gama, sendo notório o caracter desportivo da mesma.
Assim sendo, qual é o lugar destes três modelos no alinhamento da marca de Goodwood? É simples, estes são os Rolls para as pessoas que preferem um bocadinho mais de performance sem sacrificar o luxo. São carros que continuam a estar feitos para atravessar continentes inteiros sem problemas e depois voltar a casa como se nada fosse.
Porém, impõe-se a questão: Quem são os adversários da gama Black Badge? Não os há. E não os há por défice da Rolls-Royce. Em teoria, os adversários deveriam ser os modelos Speed da gama Continental da Bentley. Na pratica, os Black Badge ficam atrás em performance, mas à frente em luxo e conforto. Sem perder o espírito da marca, o governador da velocidade (a Rolls não tem limitadores, mas sim governadores) poderia facilmente ter sido elevado um bocadinho acima dos actuais 250 km/h que ninguém se ia queixar.
Os Black Badge, por enquanto, têm estado a cumprir com o desejado. A idade média dos proprietários tem estado a baixar e com o lançamento, em 2018, do SUV da Rolls-Royce (internamente chamado de Cullinan) haverá a hipótese de aparecer mais um modelo Black Badge. O preço? Se tem de perguntar é porque não o pode comprar (e eu também não o sei)!