Construindo o Próprio Ranking

O escritor argentino Jorge Luis Borges, que acreditava ser o paraíso algum tipo de biblioteca, certa vez falou que o verbo ‘ler’, assim como o verbo ‘amar’ e o verbo ‘sonhar’, não suporta o modo imperativo e que, se um livro nos aborrece, deve ser abandonado, não devemos ler só porque é famoso ou porque é um clássico.

O que dizer, então, do tsunami de listas e rankings de livros, filmes, séries que hoje inundam a Internet e os nossos telemóveis em forma de sugestão, para facilitar as nossas escolhas? Isto sem falar dos Youtubers, blogueiros e influencers ditando tendências.

Não nos podemos tornar imediatistas e atirarmo-nos nestes atalhos de listas daquilo que os outros consideram ser o melhor. Ao fazermos isto, corremos o risco do nosso gosto, da nossa opinião estarem a ser moldados simplesmente pelo modismo ou senso comum e deixamos escapar outras coisas que fazem muito mais sentido com aquilo que somos e pensamos, mas que não faz parte de nenhum ranking.

Muitos artistas, produções ou produtos de sucesso foram rejeitados até mais de uma vez antes de alguém ver algum valor neles. Imagine se sempre tivermos que esperar a aprovação dos outros para qualquer coisa que nos agrade? Podemos até continuar a ter as nossas próprias opiniões, mas de que importam, se não a fazermos valer?

No romance Cinco Minutos de José de Alencar, ao perder o horário do autocarro, o protagonista é obrigado a esperar pela próxima partida e, dessa forma, acaba por encontrar o amor da vida dele. Não podemos negar que tudo é muito mais romântico, quando é inesperado do que quando já está tudo planeado.

Sugiro perdermos cinco minutos, quem sabe o comboio, mas encontrar o livro que nos vai levar a novas estações, procurar pela canção que provoca os nossos sentimentos, escolher um filme pela emoção que ele se propõe a passar.

Será que não está na hora de deitarmos fora todos estes rankings que existem e construir a nossa própria lista?

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