Bullying – o emocional que se supera, mas não se esquece

Todos nós imaginamos que o Bullying acontece a pessoas introvertidas, com alguma característica física mais fora do comum, ou a qualquer pessoa que entre no estereótipo de estranho. Se tivéssemos de criar uma personagem para um filme que abordasse o bullying e o levássemos ao caminho do porquê, possivelmente automaticamente iriamos colocá-la numa dessas gavetas do estereótipo.

A dura realidade é que o Bullying amplia a dor de alguém em relação a uma característica ou uma fase que ela se sinta menos confortável, podendo ser até algo não permanente. Exemplo disso, são os jovens que passam por uma doença e têm naquele momento um físico muito diferente dos restantes. Exponho aqui uma questão que serve tanto para o opressor como para a vítima: Quem são essas pessoas no presente e no futuro?

No caso das vítimas, o sofrimento causado é algo que não se esquece, nunca. Mesmo nos casos de superação, isto é, em pessoas que aparentam estar de bem com a vida atualmente, que têm uma postura maioritariamente otimista. Qualquer questão que não se encontre respostas torna-se sempre algo doloroso, fazendo com que essas memórias nunca desapareçam. Os “porquês” podem aumentar qualquer sofrimento, principalmente quando estes não têm uma resposta lógica. A falta de resposta aumenta a dificuldade no poder de encaixe, proporcionando assim uma dor maior. Em alguns casos a dor nunca foi resolvida interiormente, criando traumas e inseguranças que se refletem na forma como se relacionam com o outro. Noutros casos, torna-se um pouco como aquele parente próximo que já faleceu, provoca dor ao lembrar, mas confiam no tempo para distrair essas lembranças e seguir sorrindo. Esse sorriso torna-se como aquelas tatuagens que disfarçam as cicatrizes, os donos delas sabem os seus significados, os estranhos não.

Em relação aos opressores existe também vários pontos de vista, mas quem são essas pessoas no futuro?

Não há uma resposta universal para isso e antes de responder a isso precisamos refletir sobre os vários fatores que podem levar alguém a fazerem o outro sentir-se inferior. A mais conhecida é a carência ou violência emocional sentida nas suas próprias vidas, que os leva a descarregar num alvo aparentemente mais fácil. Há também aqueles que têm medo de fazer frente a algo que considerem errado para não serem colocados de parte. Existe por fim, aqueles que se sentem superiores em pisar o próximo, que acham piada fazer chacota da fragilidade e que não conseguem fazer o exercício de se colocar no lugar do outro. Este último tipo de pessoa acredito realmente que nunca mude, é uma espécie de defeito de fábrica.

Na verdade, a percentagem de pessoas que não fazem nada é muito grande, essas pessoas sentem-se menos responsáveis por ficar “só a ver” e desta maneira deixam o maior vilão crescer. Poucos desse grupo têm coragem de ser simpáticos com alguém que está sozinho a almoçar na escola, que se senta sozinho no autocarro, com medo de passar a vestir também a pele dessa pessoa. É preciso muita coragem para ser diferente, mas aqueles que tiveram coragem de ser diferentes guardam com certeza essas memórias por toda a vida.

Se mais pessoas tiverem coragem de semear amor, haverá uma onda mais poderosa para deitar abaixo aqueles que não podem ganhar demasiado espaço e um pequeno ato pode ter um impacto enorme na vida de alguém.

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