Sinto falta de te chamar. De te dizer. De te falar.
Hoje coloquei hipóteses e tive quase-certezas, acho que te soube. Não pude evitar sorrir ao redescobrir-te, mesmo sentindo as cicatrizes abrirem em ferida. Tivéssemos tido mais tempo. Tivéssemos só tido mais tempo. Fiz as minhas pazes com a dor, mas tu às vezes ainda me apanhas desprevenida e não consigo evitar pensar: tivéssemos só tido mais tempo para construir o que nunca foi.
Para pôr em prática essas hipóteses e torná-las certezas. Para sentir menos falta de te chamar, de te dizer, de te falar. Para compor o meu coração com mais memórias, para partilhá-lo contigo, para enchê-lo com o teu. Para não te procurar noutros, porque nunca és tu.
E, no entanto.
São apenas conjecturas, ilusões, acasos que poderiam ou não acontecer se tivéssemos só tido mais tempo.
Talvez, mal ou bem, tenha sido suficiente. O suficiente para ser eterno. Que mais podemos pedir do tempo além da eternidade?
Quando, mesmo agora, que não nos vemos nem abraçamos, ainda sou capaz de ouvir a tua voz, de trazer de volta os domingos, o teu cheiro quando me beijavas a testa, o teu riso. Quando há sonhos e lutas que se infiltraram nos genes das expressões que vejo no espelho. Quando ainda existem olhos brilhantes que me falam de ti, que sorriem histórias que nunca ouvi, inchando o meu peito de saudades.
Que mais posso pedir do tempo, quando continuo a encontrar-te pelas esquinas da vida?
Fazes parte do meu futuro mesmo que nunca mais possa dar-te a mão.