Os Animais da Moda

Não tarda o Inverno chega e a caixa com as peças mais quentes voltam a ser moda. A moda mais ostentosa, mas que não cabe em todos os bolsos, inclui a caxemira, a seda, o couro, o pelo e faz séculos que está no mercado. Obstante do seu reconhecimento geral, existe controvérsia entre os activistas dos direitos dos animais, devido à tortura (e consequente morte) de seres vivos para obtenção destes materiais, que passeiam as melhores marcas nas passerelles mais brilhantes. A cada ano que passa, são mortos, aproximadamente, 31 milhões de animais em fazendas para composição de casacos e malas e, sem se dar conta, um fashion victim usa uma mala sem saber o processo da composição. Como será possível que uma actividade conhecida por ser “violenta” consiga prolongar-se durante tantos séculos?

Antes de ser luxo, a moda em questão fazia parte do quotidiano das civilizações antigas em que a pele e o couro eram os únicos materiais conhecidos para se protegerem das mudanças de temperatura. As peles de animais aqueciam nos climas mais frios e o couro servia para ferramentas e algumas peças da indumentária. A tecelagem e a fibra de algodão estavam longe de serem interpretadas como materiais de vestir.

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No século XIX, o caso mudou de figura e a pele, que antes era usada para proteger e para usar como ferramentas, tornou-se num elemento de moda. Era um bem de luxo e, por isso, as peles passaram a ser produzidas em massa nas fazendas de peles (a garantia dos produtores de peles). Rapidamente, a revolta dos activistas dos direitos dos animais começou a surgir e o brilho dos desfiles de moda foi pintado de “tinta” vermelha.

Brigette Bardot foi a primeira celebridade, em 1977, a participar activamente em campanhas contra o uso de animais.  Embora esta campanha fosse patrocinada pela Greenpeace, foi em 1980 que notou-se um efeito nesta indústria com a criação da PETA, organização que conta com mais de dois milhões de membros.

Recentemente, a artista holandesa, Katinka Simonse, tornou-se num alvo facilmente odiável, quando decidiu mostrar a realidade de como e porque se matam seres  vivos para obter certos materiais. Thinkerbell, o nome artístico da activista, tem como principal objectivo mostrar como todos os anos milhares de animais são mortos sem que se saiba e, ainda assim, o resultado é comercializado tanto em lojas online, como em lojas de luxo. Desde galinhas, a tartarugas, a ratos e ao próprio gato – a artista tirou-lhe o pescoço e fez uma mala –   Thinkerbell optou por chamar a atenção das pessoas, através da exposição artística da morte dos animais. Numa loja (em especial de alta costura), uma mala de pele é aliciante e facilmente comprada, porque ninguém vê o processo da sua materialização. No entanto, se todo o processo fosse filmado e posteriormente vendido, que reacção teria o comprador? A intenção da artista era chegar à luz do problema, mas, com o desenvolvimento da Internet e das redes sociais, a concretização deste projecto, que dura há nove anos, tornou-se ambígua, pois a “exposição” resultou numa nova versão (a artista insiste que estes animais morreram por causas naturais).

katinka

“It’s a mix of things. It all started I think seven or eight years ago. The thing is that [the stories] have all been translated so many times, and it’s just like when you’re in a group and someone tells someone else a secret and this person tells it to someone else. The story changes. People add stuff.” – disse Thinkebell numa entrevista ao Huffington Post.

A boa intenção da artista chamou a atenção da fundação TED, que todos os anos divulga conferências de cariz polémico. Nesta conferência, a artista acrescenta ainda que, da mesma maneira que se matam animais para criar acessórios de moda, existe quem os compre vivos e os trate para o mesmo efeito (exemplificando com o caso da Thinkerbell da conhecida Paris Hilton). No entanto e para que fique uma opinião bem formada em relação à Katinka, é aconselhável que se assista a este vídeo, pois nem tudo o que está na Internet é verdadeiro e a “criminosa” em questão tem direito a defender-se.

A relação da alta costura com as peles terá sempre uma ligação, uma vez que o intangível será sempre desejado e, neste caso, comercializado como um bem luxuoso. Existem materiais como o cabedal e o pelo que fazem a vez através de falsificações. O efeito é o mesmo e a diferença cinge-se na ausência de tortura, ou seja, sem prejudicar seres vivos. Será essa uma solução para a pacificação das mentalidades? Poderá surgir uma nova polémica articulada à hipocrisia de imitar o proibido?

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