Em 2005, um coleccionador privado nova-iorquino adquiriu, em leilão, um quadro por mais de 15 mil libras, representando Napoleão Bonaparte, Imperador de França, ostentando o uniforme da Guarda Nacional. O retrato, proveniente da colecção da família Borthwick-Norton, no Castelo de Borthwick, no Sul da Escócia, terá sido oferecido por um descendente à Academia Real Escocesa, que posteriormente o vendeu. O quadro, até então considerado uma cópia, visto existir um outro muito semelhante na National Gallery de Washington, foi analisado por Simon Lee, director do departamento de História de Arte da Universidade de Reading, no Reino Unido, que defende tratar-se, na realidade, do original perdido pintado por Jacques-Louis David (1748-1825), mestre incontestado da escola de Pintura Francesa, do período neo-clássico e autor de conhecidas obras como A Morte de Marat (1793), Retrato equestre de Napoleão no monte de São Bernardo (1801), ou Coroação de Napoleão (1806). A ser verdade o retrato em questão poderá valer mais de dois milhões de libras esterlinas, atendendo ao facto que o último quadro do pintor que esteve em leilão foi vendido em 2006, em Paris, por 2 milhões e 140 mil libras. Além disso, o bicentenário da batalha de Waterloo, em 2015, poderá certamente inflacionar estes valores.
Simon Lee recorreu a diversos métodos de autentificação. Além de ter encontrado uma gravura contemporânea da obra em questão, cuja legenda mencionava o autor como sendo Jacques-Louis David, comparou os uniformes das várias versões conhecidas, notando diversas diferenças, que possibilitam a datação do exemplar de Nova Iorque como mais tardia. Por outro lado, o retrato da Condessa de Daru, pintado por David, em 1810, em exibição na Frick Collection, apresenta fortes semelhanças técnicas, nomeadamente a nível do tratamento de rosto e roupagens.

Todavia, há ainda bastantes dúvidas. Embora a imagem seja assinada por David, surgem nas camadas de tinta menos superficiais, a palavra Rouget e a data de 1813. Efectivamente, Georges Rouget (1781-1869) foi o assistente preferido do mestre ao longo de mais de dez anos. A prática da transferência de imagens para a tela era prática comum, podendo dever-se a David não só o esboço, como a escolha das cores e retoques finais. O apelido de George Rouget, coberto de tinta, demonstra que a tela seria o resultado do trabalho conjunto de ambos, embora apenas a assinatura do mestre tenha sido evidenciada.