Descubra o poder das suas palavras

Neste primeiro artigo de 2021, decidi falar-lhe sobre o poder das palavras na sua vida.

Parece-lhe um tema estranho? Claro que não. Decerto, já ouviu falar de Programação Neurolinguística ou do mantra Ho’oponopono e como os nossos pensamentos e emoções podem ser orientados, com base na escolha de determinadas palavras para alcançar o máximo impacto positivo na nossa existência.

Não vou detalhar nenhuma destas matérias, pois estão longe da minha área de atuação, mas posso garantir-lhe: as palavras que escolhe no seu dia a dia, quando fala ou escreve, influenciam positiva ou negativamente a sua vida profissional e pessoal.

Precisamos de aprender a adaptar o discurso ao nosso interlocutor. Sempre. De nada serve utilizar as palavras mais recônditas do dicionário — essa prosápia — só para massajar o ego e perceber no final, que a sua mensagem acabou por não passar como devia.

Não quero dizer com isso que o caminho seja a simplificação da linguagem. Falo somente na importante adequação do discurso à sua plateia. Uma professora de ensino básico explica Português aos seus alunos, com uma abordagem diferente de uma professora do ensino secundário, certo?

Pretende que o seu leitor fique meditabundo perante os seus textos? E o que dizer dos erros ortográficos? Esses «opróbrios indeléveis» partilhados nas redes sociais com toda a leviandade!

Mofinamente há quem continue a não acertar com o «h» ou o «à e prefira a «aderência», em detrimento da adesão à pratica de uma linguagem mais cuidada.

Li recentemente um texto bastante interessante que falava sobre como o empobrecimento da linguagem pode ser uma das causas para a diminuição, nos últimos vinte anos do QI médio, nos países mais desenvolvidos.

A redução do vocabulário utilizado e o desaparecimento gradual dos tempos verbais leva-nos a uma incapacidade de refletir e de pensar.

Ainda há poucos dias, escrevi sobre as palavras «estada» e «estadia» e de como a primeira raramente surge, o que não significa apenas uma pobreza estética lexical, mas também o deixarmos de pensar que a «estadia» de um barco num porto de cruzeiros é diferente de uma «estada» confortável num hotel de cinco estrelas.

É a perda destas subtilezas da linguagem que nos faz ficar empobrecidos. Como afirma Christophe Clavé «Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras.»

Quais são os segredos para evitar este «emburrecimento» coletivo?

O primeiro é ler. Ler bastante. Todos os dias, diversos géneros literários. Cada livro que lemos engradece-nos. Se reparar, na escrita deste artigo fiz questão de introduzir algumas palavras (que talvez o obriguem a ir propositadamente ao dicionário!), resultantes da minha última leitura, «A Queda Dum Anjo», de Camilo Castelo Branco. É este o efeito positivo dos livros — permitem-nos sonhar, crescer e aprender.

O outro dos grandes segredos é escrever, escrever muito, de preferência à mão. Escrever à mão ensina-lhe bastante sobre o poder das palavras, a manter o foco no essencial. Sem acesso aos corretores automáticos, o esforço intelectual é superior e apesar de ser um processo mais lento, favorece a interpretação e a escolha certa dos vocábulos a utilizar. Todos escrevemos no nosso dia a dia e utilizar as palavras com mais impacto e clareza é fundamental.

Escreva mais e procure aprender cada vez mais sobre a arte da escrita, quer seja por motivos profissionais, terapêuticos ou para efeitos de criação literária.

E lembre-se sempre… 

«É a escrever mal que se aprende a escrever bem.»

 – Samuel Johnson

Se este tema lhe interessa, inscreva-se no «Minicurso Semana da Escrita», de 11 a 15 de janeiro, online e gratuito https://oprazerdaescrita.com/minicurso-semana-da-escrita/

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O que acabei de ler: A Queda Dum Anjo, de Camilo Castelo Branco, Porto Editora

Prescrição literária: esta é uma das novelas mais célebres de Camilo Castelo Branco, publicada em 1866 no Porto, uma notável caricatura da vida política nacional e uma parábola humorística sobre o desvirtuamento do Portugal antigo. Camilo Castelo Branco tem um humor «de se lhe tirar o chapéu». Sendo uma obra escrita no século XIX, possibilitou-me aumentar o meu léxico com a descoberta de palavras novas que me levaram à criação de uma nova rubrica semanal nas minhas redes sociais. Eis um livro que recomendarei vivamente; eis um livro que «vale a pena ler», mesmo com um dicionário ao lado.

O que estou a ler: O Alienista, de Machado de Assis, Porto Editora

Prescrição literária: um pequeno grande livro de cento e oito páginas, leitura recomendada para o 9.º ano de escolaridade, que nos conta a história do Dr. Simão Bacamarte, médico psiquiatra, homem da ciência, que constrói um asilo em Itaguaí e nada faria prever os acontecimentos que lhe sucederam. “Eram furiosos, eram mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito.” Mas quem eram, afinal, os loucos? Neste conhecido conto da literatura brasileira, Machado de Assis reflete sobre a fronteira entre a sanidade e a loucura, ao mesmo tempo que constrói um retrato crítico da sociedade da época.

O que vou ler a seguir: Dom Casmurro, de Machado de Assis, Guerra & Paz

Prescrição literária: «Uma das mais importantes obras da literatura brasileira que discorre sobre a essência do ser humano, as suas fragilidades e contradições. Um livro para ler e reler e para tentar descobrir um dos maiores enigmas da literatura: afinal houve ou não traição?» Depois do Alienista, decidi conhecer melhor a obra literária de Machado de Assis, filho de pai mulato carioca e mãe açoriana, escritor brasileiro, que nasceu no Rio de Janeiro em 1839 e morreu em 1908. Autodidata e ambicioso, Machado de Assis, tornou-se um clássico da língua portuguesa.

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