Na habitual rubrica onde partilhamos a nossa opinião e damos a conhecer um livro que tenhamos lido, e tendo em conta que nesta altura do ano proliferam as Feiras do Livro um pouco por todo o país, venho dar-vos conta de um que me é muito especial, intitulado “Relatos de uma Quarente(o)na”.

Não é um livro grande, nem complicado, nem tem grandes contornos ou reviravoltas, é um livro simples, com uma estória simples, cujo intuito é precisamente lembrar-nos das coisas simples da vida e que são nelas onde reside a felicidade.
É engraçado e curioso como há passagens na nossa vida que não só nos marcam como nos influenciam.
Cresci a ver o meu pai escrever. Gostava imenso de ler o que ele escrevia e lembro-me de sentir um orgulho enorme.
Tinha somente a antiga 4ª classe, o 4° ano de hoje. Porém, e verdade seja dita, a antiga 4ª classe dotava os alunos de conhecimentos vastos e diversificados, daí a sua escrita ser perfeita, cuidada e inspiradora.
Escrevia poesia: sonetos, peças de teatro em verso, acrósticos, quadras humorísticas.
Só falhou numa coisa: dizia que, quando se reformasse, compilaria tudo e editaria um livro. Afinal, isso nunca aconteceu.
Em 2010 deixou-nos. E nada voltou a ser igual. Tudo perdeu sentido. Os Natais, as Pascoas…
Sendo filha única, sempre fui a “menina do papá”. E, dentro de mim, permaneciam sentimentos dúbios de saudade e de revolta simultaneamente.
Em 2015, comecei a seguir os seus passos, a dar asas à minha escrita, também na área da poesia, e descobri que escrever para mim era imensamente libertador. Sempre que passava os meus pensamentos para o papel, sentia uma leveza, ficava como que exorcizada e livre de todo o mal que me atormentava.
Em 2018, e na sua homenagem, lancei o meu primeiro livro de poemas inéditos: “Ressurreição”
O gosto pela escrita mantém-se. No entanto, para escrever é necessário tempo e paz, no sentido de conseguirmos alienar-nos e absorver a inspiração e, convenhamos, na azáfama de hoje em dia, não é fácil reunir todas estas condições.
Mais tarde, já em 2020, e, por força das circunstâncias, fomos todos obrigados a parar. A pandemia causada pelo vírus do COVID 19 e que teve repercussões ao nível mundial, remeteu-nos para o silêncio, para a solidão e, consequentemente, para a introspecção.
Foi um momento difícil, duro e inesquecível aos mais diversos níveis e áreas, desde a economia, passando pela saúde, quer física, quer mental.
No entanto, e, porque as circunstâncias da vida assim me têm vindo a ensinar, procuro sempre ter a capacidade de retirar uma coisa boa de uma menos boa. E assim fiz. Aproveitei todo o tempo livre de que dispunha, e com o qual tantas vezes tinha sonhado, para escrever.
Desta vez, quis fazer algo diferente e aventurei-me na prosa. E assim, em cerca de mês e meio, nasceu este mini conto, que pode ser caracterizado como uma fusão interessante entre a ficção e a realidade.
Ficção porque os personagens não são reais. Por outro lado, a acção decorre em locais reais e em tempo real, isto é, de vez em quando, o narrador, ou seja, eu própria, coloca o leitor ao corrente dos acontecimentos, não perdendo a oportunidade de dar, como é seu apanágio, a sua opinião/visão pessoal.
O ser humano tende a esquecer-se das coisas rapidamente. Assim sendo, quatro anos volvidos, penso que será interessante reviver alguns dos momentos mais marcantes desse período conturbado e aproveitar também esta oportunidade que surgiu junto de uma Editora jovem – Oficina da Escrita – composta por uma equipa também ela jovem, atenta e inovadora, o que faz com que se enquadre perfeitamente nas mudanças e nas necessidades que esta área enfrenta hoje em dia.
Durante esses quatro anos, e até à data, nunca abandonei a poesia, continuando sempre a escrever e a publicar nas redes sociais.
É bem verdade que, fazer seja o que for com gosto, é meio caminho andado para se ser bem-sucedido. E hoje, quando olho para trás, percebo que apesar de todas dificuldades com as quais tivemos que aprender a lidar, a chamada “nova normalidade”, no fundo, e pessoalmente, foi uma oportunidade a qual aproveitei sem pensar duas vezes.
Assim aconteceu, também, com os meus personagens, a Cíntia e o Pedro, que aproveitaram da melhor maneira possível a quarentena e provaram, a eles próprios e aos leitores, que tudo é possível, independentemente das circunstâncias.
Gostaria de terminar com um conselho: paremos de vez em quando. A nossa saúde agradece. E, num desses momentos de lazer, aproveitem para ficar a conhecer um pouco mais sobre estes personagens, que poderiam ser reais, e com os quais nos poderemos e iremos, tantas vezes, rever e identificar.
Aproveito ainda para vos deixar duas datas, as quais gostaria que guardassem, sendo elas o 08 de Setembro pelas 19h, dia em que estarei na Feira do Livro do Porto para uma sessão de pré-venda e autógrafos e, posteriormente, o 26 de Outubro, data em que será o lançamento formal desta pequena obra.
Terei o maior gosto em ver-vos por lá!
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do antigo acordo ortográfico