A P. da idade e o medo de envelhecer

Aquando da publicação deste artigo já estarei um ano mais velha, quase a chegar aos 40 anos, parece que não fiz nada de jeito (pelo menos aos olhos da sociedade), ainda não casei, ainda não tive filhos, ainda não escrevi um livro, tão pouco plantei uma árvore.

O tempo passa tão depressa, ainda ontem estava nos meus 20 e poucos a iniciar no mundo do trabalho e agora estou quase na reforma (eu sei que ainda me falta bastante, mas não custa nada sonhar).

Agora falando a sério, não tenho problemas com as expectativas da sociedade, mas tenho muito medo de envelhecer – esqueçam as rugas, as peles caídas, o que me preocupa mesmo é a falta de cuidado e respeito para com os idosos. A solidão. Às vezes, ponho-me a pensar nesse futuro longínquo, se chegarei lá e o mais importante como chegarei. Conseguirei sustentar-me? Terei as minhas faculdades mentais intactas, conseguirei me locomover? Quem irá cuidar de mim?

Há alguns anos, eu e a minha mãe tivemos de procurar um lar para os meus avós, e posso dizer-vos que foi a tarefa mais difícil e cansativa que tive de enfrentar na minha vida. Foi desgastante, não conseguimos arranjar um lar público (depois de milhentas entrevistas e burocracias), estão a arrebentar pelas costuras com filas de espera imensas. A solução foi o privado, entretanto o meu avô faleceu e ficou só a minha avó (que precisa de cuidados especiais pois não se consegue locomover e tem demência), por acaso temos possibilidades monetárias para a manter lá (por enquanto), porque, caso contrário, a minha mãe teria de abdicar do seu trabalho para cuidar dela, o que não seria muito bom pois as ajudas do estado aos cuidadores deixam a desejar.

À despesa do lar juntam-se fraldas, medicação, algálias, sondas alimentares, produtos de higiene, etc. Como é óbvio a reforma não dá para tudo porque o dinheiro não estica. Isto faz-me pensar naquelas pessoas pobres que usufruem de uma reforma inferior a 200€ que não têm ninguém, estão abandonados à sua própria sorte. Quantos idosos estão “encostados” em camas nos corredores dos hospitais à espera que alguém os vá buscar e quantos são encontrados sem vida nas suas casas porque foram negligenciados pelos seus parentes e pela sociedade.

Neste momento, habitam no nosso país mais idosos do que jovens, somos uma população envelhecida e eu tenho muito medo do futuro.

Portugal é o quarto país do mundo com mais pessoas com uma idade igual ou superior a 65 anos e onde a população nesta faixa etária já representa quase 25%.

(in SIC Notícias)

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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