Há dias assim, em que a chuva não pára de cair! Bate com força na janela em que te vejo, entrecortada pela leve linha de luz, que escapa por entre as nuvens cinzentas. Molhado até ao tutano, fico ali a ignorar a intempérie, a olhar para dentro dos teus olhos… e o sorriso… meu Deus! Perdi-me.
Cheguei encharcada. Corri para o banho, livrei-me das roupas coleantes que teimavam em cingir-me, desagradavelmente, a pele. Deixei a água cair sobre mim, desta feita morna e reconfortante. Inundei-me de odores inebriantes que permaneceram na bruma de vapores e se estenderam até ao quarto. Ao secar-me, olho com alguma melancolia o creme de flor de ameixa que me ofereceste em tempos. Parece que foi tudo o que sobrou de nós. Sento-me na beira da cama, abro o boião, e começo a espalhar, vagarosamente, com requintado deleite, a textura cremosa e perfumada por todos os meus poros. Outrora, serias tu a fazê-lo. Adio o vestir, dando tempo para que a sensação perdure. Olho a janela, a chuva forte cai lá fora. Tardiamente apercebo-me que não baixei os estores. Mas também, quem seria imprudente de permanecer na rua com este tempo? É com a luz dos faróis do carro que passa que te vejo, no escuro, olhando-me insistentemente.
Acordei do meu transe, a ouvir o meu coração disparar, aproximei-me da porta e antes de bater, ela abriu-se… a tua magia funcionara, novamente. Entrei. Encharcado, ouvi o som dos pingos, grossos, a bater no soalho, esboço um sorriso largo e ansioso, olho para ti… despida. Começo a redesenhar o mapa que tão bem conheço, os olhos viajam para os cantos de que mais gosto. Domino a minha vontade, fico a sentir o cheiro do creme, misturado com o cheiro do banho… hummm… inspiro o mais que posso. O dedo indicador, o maior, estica-se para tocar no ombro e descer devagarinho, aproveitando a gravidade e o teu contorno. Aqui estavas tu, sem esforço nenhum, a dominar o mundo inteiro, com a ditadura da tua presença. Continuo a pingar, sem noção de nada, porque estou preso ao limite do teu corpo, que me invade a alma e que o toque da tua pele nada acalma.
Não sei explicar porque te abri a porta, quando por ela saíste, em tempos, por tua vontade. Digo para mim própria que és digno de dó, ali, ensopado, a mirares-me. É pena, é isso, convenço-me de tal. Fá-lo-ia a qualquer outra pessoa. Não julgues que ainda sinto algo por ti. Não penses tal coisa, não te iludas. Mas ali estavas tu, empapado. Os teus olhos imensos nos meus, e quase na inocência de um menino, torneaste-me com a ponta do dedo, a medo, inebriado ainda assim. Resisto a emocionar-me. Balbucio qualquer coisa sobre a tua roupa, querendo cortar o momento que se insinua. Digo que deves secar-te. Que te dispas na casa de banho, se quiseres, que eu vou buscar uma toalha, como se não soubesses onde as guardo. Falo sem parar. Era o que faltava deixar escapar a vontade que tenho de te…
Eu vejo que estás a falar, porque observo os teus lábios a moverem-se, carnudos, suaves… lembro-me do sabor que tinham… sem batom, ao natural, como eu gosto… sou acordado, novamente, pelos teus movimentos e percebo que devo dirigir-me para a casa de banho. Vou, olho-me ao espelho e vejo-te atrás, arranco a roupa do meu corpo, espalho tudo no chão. Só quero agarrar-te, mas não sei se posso… passou demasiado tempo? Viro-me de frente para ti com os meus lábios junto aos teus, sem beijar e digo-te:
– Queres saber o que aprendi? – Sorrio e a mão desliza pelas costas abaixo… ai que vontade de…
Sinto a tua mão no convexo das minhas costas, quase, quase onde as minhas nádegas começam, A tua mão é firme, mas suave ainda assim, um pouco a medo. Prontamente reajo, e coloco a minha no centro do teu peito, de onde me apetece começar a percorrer-te também, e a distância é tão pouca que sinto o teu manifesto membro a tocar a minha perna. Sorris, com aquele sorriso maroto, mas não esperes que te facilite a vida, meu sacana. Empurro-te e respondo que não deve ser nada que não me possas dizer depois do banho que te espera. Visto o roupão azul que está pendurado na porta, deixando-o sugestivamente mal traçado, e digo que te espero na sala com um café quente. Viro-te as costas, deixando a porta entreaberta, mas volto atrás, sem que o percebas, e miro-te enquanto te ensaboas, imaginando que te toco com uma das minhas mãos. Com a outra toco-me no peito, depois mais abaixo…
Voltei ao sítio onde fui feliz, este walking shower era o nosso refúgio. Finjo não ver que me espreitas, e faço tudo em câmara lenta, ensaboando-me, devagar, como se as minhas fossem as tuas mãos, suaves brisas de cheiro intenso do teu gel duche. A água quente endurece-me ainda mais. Viro-me para ti, chamo-te com o dedo e uso o meu sorriso maroto. Irresistível, não é? Vens, deixando o teu roupão azul, deslizar por ti abaixo, sem esforço. Entras e eu beijo-te, para matar as saudades… A mão passa na tua cara sorridente, mesmo de olhos fechados sinto o teu sorriso. Mordo levemente o lábio inferior e o beijo torna-se mais intenso! Fico colado a ti de forma a sentires o meu desejo e beijo-te do pescoço até por detrás da orelha… Suave, mas intensamente… E sussurro com a minha voz quente
– Vem! Vem que eu te quero!
Sempre foste impetuoso. O teu beijo começa a amainar a vontade que tenho de te fazer sofrer, de pedinchares, de implorares. Reavivo as saudades do teu beijo, sempre intenso, sempre guloso. Enquanto me contornas o pescoço com os teus lábios e a tua língua quente, sinto-me fraquejar nas minhas intenções. Abraço-te fortemente, quero sentir-te por todo o meu corpo. A minha mão, agora sim, à rédea solta, afaga-te o cabelo, entrelaçando os teus cabelos nos meus dedos, e logo desce, demorando-se a recordar o que não esqueci. Puxo a tua anca para mim, com brusquidão. Amparo com as mãos as tuas nádegas, mantenho-te preso junto a mim, sem hipótese de fuga. O meu olhar é desafiador, provocador. Digo-te, a espaços, por entre a minha respiração acelerada, que me mostres então do que és capaz, que me ensines o que aprendeste.
Sou impelido pelo teu desafio. afasto-te um pouco deixando-te por baixo do chuveiro, vendo aquela cascata cair sobre os teus cabelos, nos ombros por montes e vales onde o meu olhar se perde e então, deixo que o caminho de beijos doces e suaves que fiz até à tua orelha se transforme na luxúria de poder saborear a água quente que te bate na pele, demorando-me no teu peito, em cada um, uma eternidade de cada vez. Sempre precisei mais do que uma vida para apreciar todos os teus sabores e cambiantes. Desço, devagar, pela barriga e cada vez mais para baixo, deixando marcas da minha dedicação pelo caminho. Aproveito cada centímetro, para poder disfrutar. Provo finalmente o que tanto desejava e à entrada do jardim do éden, estremeces e eu sorrio olhando para ti lá em cima, poderosa, mas frágil ao mesmo tempo. Sou cada vez mais incisivo na maneira como expresso o meu desejo e tu empurras a minha cabeça, primeiro suavemente e depois conforme aumenta o ritmo assim aumenta a força da tua mão sobre o topo da minha cabeça… hummm… Delicio-me ao sentir com clareza o teu doce no meu palato.
Deixa-me sentir o meu sabor, peço-te, e beijo-te com sofreguidão, como se a tentar recuperar o tempo que perdemos. Sinto-me em ti, na tua língua que me traz o mais íntimo de mim. Pergunto-te, sabendo a resposta, se queres sentir o teu sabor, e vendo a ânsia no teu olhar, desço no elevador dos prazeres, buscando-te, orientando-te na minha direcção. Tomo-te nas minhas mãos primeiro, depois provo-te, delicada, a torturar-te, a ver-te aflito nessa vontade de mais, olho, não sem prazer, o esgar que te toma o rosto, procuro entre o som da água o da tua respiração ofegante. Interrompo antes do fim do tempo, e levo-te o teu sabor, e tu procurá-lo, na minha boca, num profundo beijo. Fecho a água, pego-te pela mão, e levo-te para o quarto que já foi nosso. Quero-te em mim.