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A sociedade que despacha as emoções

É comum observar na sociedade que, quando se envelhece, aceitamos mais facilmente se o nosso corpo falhar um pouco, se precisarmos de ajuda para subir e descer escadas, mas todos desejamos o mesmo: que as nossas mentes se mantenham intactas.

Queremos ter uma mente sã e, no entanto, quantos de nós realmente dedicam tempo para se tornarem emocionalmente aptos?

Cuidamos do nosso corpo constantemente. Vamos ao ginásio, bebemos batidos de proteína, usamos dispositivos que rastreiam cada movimento que fazemos num dia. Porém, o que fazemos em prol da nossa própria saúde emocional, da nossa própria aptidão emocional?

O ritmo de vida a nível global está a mudar a uma velocidade mais rápida do que alguma vez mudou no passado. E a capacidade do nosso cérebro de processar o mundo, de perceber o que estamos a fazer com o nosso tempo, de estar constantemente a moldá-lo, interagir, tentar entendê-lo… Essa capacidade não aumentou na mesma proporção.

Estamos a construir um mundo mais rápido e automatizado, mas a nossa velocidade de processamento cerebral não consegue acompanhar. Isso tem resultado em mais stress e mais ansiedade. A aptidão emocional será mais importante do que nunca para todos nós daqui para a frente.

Porém, infelizmente, não somos realmente ensinados a viver no mundo de forma emocional. Aprendemos habilidades sociais. Aprendemos muitas coisas importantes. Como ler, como escrever, como falar e andar, como fazer amigos, como não irritar o chefe. Mas não nos ensinam sobre a nossa saúde emocional.

Isto causa impedimentos em entender, adequadamente, partes das nossas vidas. Um deles é a nossa suposição exagerada de que já o fazemos na plenitude. De que gerimos emocionalmente bem as situações. Facilmente interiorizamos e partilhamos com outras pessoas, descrições superficiais de eventos dolorosos importantes, o que deixa a essência das nossas emoções para trás. Poderia soar para os demais como se certamente tivéssemos um controlo sólido e firme o suficiente sobre esses eventos. Mas, pelo contrário, são precisamente essas histórias comprimidas e o tipo de testemunhos prontos e sem afeto que impedem uma conexão adequada e visceral com o que aconteceu connosco e, consequentemente, um conhecimento adequado de nós mesmos.

Colocando-o de uma forma paradoxal, as nossas memórias são o que nos permite esquecer. Através da imersão adequada (e com ajuda profissional) em medos, tristezas, raivas e perdas passadas podemos ultrapassar certos distúrbios que se desenvolvem quando eventos difíceis ficam imobilizados dentro de nós. Para nos libertarmos do passado, precisamos de lhe prestar luto e, para que isso ocorra, precisamos de entrar em contato com o que realmente sentimos.

Por ser apreciador de arte, utilizarei uma metáfora para explicar a diferença entre lembranças realmente sentidas ou não. Podemos comparar à diferença entre uma pintura medíocre e uma excelente pintura do mesmo momento, por exemplo, na Primavera. Ambas nos mostrarão um lugar ou um objeto, mas apenas um grande pintor irá captar, adequadamente, entre milhões de elementos possíveis, os poucos que realmente tornam o momento encantador, interessante, triste ou terno. Numa das pinturas saberemos que é Primavera. Na outra, conseguiremos até senti-la. Isto poderá parecer uma consideração estética redutora, mas vai ao cerne do que precisamos de fazer para superar muitas questões psicológicas.

Não deveríamos continuar a despachar o processo de refletir sobre o passado, de forma efémera, sem atenção aos detalhes, enquanto nos recusamos a reviver o evento que estamos a atravessar. Precisamos de parar, refletir e assumir a realidade pantanosa e confusa do nosso passado. Precisamos de nos deitar, talvez num sofá, talvez com música, fechar os olhos e aguentar as coisas na sua plenitude. Somente quando regressarmos novamente ao nosso sofrimento e o conhecermos a fundo é que ele nos pode prometer deixar em paz.

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