Ou a minha luta.
O livro em questão é polémico e tem toda a razão de o ser, no entanto, a obra (como qualquer outra), especialmente escrita, destina-se não só a uma narrativa à qual o autor se entrega, mas, principalmente, na compreensão para além dos escritos pelo leitor. Este livro não é excepção.
A primeira vez que o li (talvez há 10 anos já), não lhe atribuí grande importância, talvez porque o exemplar não me pertencesse e a leitura fosse em modo de corrida. Voltei a lê-lo recentemente, no passo que gosto de dedicar à leitura.
Primeiro, erradamente se atribuí esta obra a Hitler. De facto, é redigida por ele, mas a teoria social lá exposta é da autoria do verdadeiro “fascista”, o pai da doutrina nacional-socialista alemã e vice-líder do Partido Nazi, Rudolf Walter Richard Hess.
A escrita da obra é confusa e difícil. Com uma narrativa ora em voz própria, ora na terceira pessoa (ainda que raras), consiste num aglomerado de pensamentos, deduções e sentimentos, que misturam desordenadamente a cronologia dos acontecimentos (o livro faz lembrar outra obra, Obama, em que mistura política e a vida política, com acentuadas imagens narrativas da vida juvenil e familiar). Por isso, Mein Kampf, na minha opinião, é uma obra que deveria ser lida duas vezes por todos aqueles que pretendem conhecer a mente humana.
Não que considere a obra um bem para a humanidade. Muito pelo contrário. É uma obra sombria, nefasta e contrária ao bem da vida – não venero o conteúdo ou apoio a ideia aqui defendida. No entanto, o livro demonstra a capacidade da mente humana em produzir o terror, mas, ainda mais importante do que a mente de um individuo, é olhar para a obra e para a história e perceber que, de um aglomerado de ideias, se movimentou uma massa em suficiente número para dar corpo ao delito.
Ao ler Mein Kampf é notório que é uma doutrina dividida em três partes principais.
O início retracta a vida do autor, desde a sua infância à sua experiência mal-sucedida na Primeira Guerra Mundial, passando também pelos seus primeiros contactos com a política. Para quem nunca leu, a primeira parte reflecte, por diversas vezes, a simpatia e o respeito que Hitler nutria pelos judeus, o que nos permite concluir que, na realidade, é Hess o autor do livro e Hitler o seu comunicador.
Hitler era um excelente comunicador de massas, mas não era inteligente, nem sagaz. Era impulsivo e sentimentalista, mas um bom comunicador é tudo, porque é ele que consegue transformar uma mera ideia num projecto exequível.
A mente humana é fruto do ambiente que a rodeia e a mente de Hitler foi fruto de um conjunto de realidades com que se deparou. O livro demonstra o perigo que hoje vivemos do viés de informação, da verdade tida como una e indivisível e da declaração de culpa, sem nenhum julgamento prévio. Hitler condenou ao extermínio não só judeus, mas ciganos, deficientes, homossexuais e eslavos, numa grande incitação ao extermínio étnico. Hitler, como todos os europeus daquele século e deste também, têm descendência judia, a Europa é um povo fruto das migrações seculares.
A leitura deste livro empurrou me para um outro autor, Keynes, e, antes de Mein Kampf existir, foi ele que, nos seus muitos artigos que escreveu sobre o desfecho da Primeira Guerra Mundial e do papel desempenhado pelos aliados na Alemanha depois do fim da guerra, referiu isto mesmo. O perigo de se desencadear uma nova Grande Guerra, mais mortífera, mais destruidora, e que bastaria um comunicador com uma ideia.
Os livros são, na sua génese, relatos de autor, mas nenhum livro se escreve sozinho, nenhum conta uma só história. Compete ao leitor descortiná-las.
Mein kampf ou também conhecido como a “Bíblia nazista”. Unanimemente repugnado pela crítica literária. Apenas um preâmbulo/manual de instruções para a matança perpetrada pelos porcos nazis. Não digno de recomendável leitura . Aliás, a sua divulgação foi proibida durante anos em Portugal e outros países. Situação que infelizmente mudou quando os direitos do livro caíram no domínio público; algures no ano de 2015.
No entanto, e na minha opinião, a sua divulgação continua a não merecer qualquer respeito.