Palavra do Ano: Ódio

Esta palavra é-vos bastante conhecida, não é? É mesmo disso que vamos falar. Da facilidade com que usamos esta palavra e a forma como destilamos esse sentimento.

Vivemos numa época em que é fácil opinar sobre tudo. As redes sociais vieram aproximar as pessoas, mas também veio facilitar a forma como podemos ofender o outro. Basta um ecrã e um teclado e qualquer um pode ofender.

Falamos de como uma simples foto pode desencadear uma onde de ódio. Recordo-me de o Nuno Markl comentar o que ele passa nas redes sociais, dos comentários a que foi sujeito. Lembro-me de uma vez ele postar uma foto a mostrar apenas um canto de um tapete. Sim, a partir de um canto de um tapete, houve quem conseguisse ofender o humorista.

Vivemos num mundo onde parece que a opinião de todos tem de ser ouvida, tem de valer a pena, tem de ser tida em conta. Todos nós podemos dar a nossa opinião, sem ofender ninguém.

Os chamados influencers sentem bem este lado negro da Internet. Confesso que não sigo muito os Instagramers, mas juro que de vez em quando vejo com cada comentário que fico escandalizada.  Vemos pessoas a chamarem de gorda à Jéssica Athaíde quando acabou de ser mãe, vemos pessoas a comentarem o cu grande da Carolina Deslandes e que não devia aparecer na TV assim. Malta, onde isto vai parar? É este mundo que queremos para os nossos filhos, onde o ódio é cada vez maior?

Confesso que sempre que existe uma publicação seja do que for, até pode ser de uma promoção a uma esfregona, eu vou à secção dos comentários. É do melhor que há. Existe muita malta com problemas sérios de frustração. Começamos a ver esse destilamento de ódio nos mais novos. Começamos a ver crianças a fazerem bullying a outras crianças e que, ao terem acesso às redes sociais cedo de mais, começam a fazer ciberbullying.

Vivemos num mundo onde odiamos tudo e todos, num mundo onde o egoísmo é maior, num mundo onde o respeito está a começar a perder lugar e num mundo onde o racismo se começa a evidenciar cada vez mais.

O que foi feito ao Marega foi uma falta de respeito. Nenhum jogador ou “ser humano comum”, merece ser tratado dessa forma. Somos todos seres humanos, viemos do “mesmo sítio”. Vivemos num mundo onde o corpo feminino tem cada vez mais de ser perfeito, onde a palavra gorda é abundantemente usada. É verdade que já se começam a ver sinais de mudança em algumas agências, mas ainda há muito para ser feito.

Vivemos num mundo onde aqueles que têm o poder de exercer e impor respeito não o podem fazer. Falo dos policias, sim. Esses profissionais de segurança que não podem impor barreiras, limites, porque senão uma simples câmara de um smartphone vira-se contra eles. Sim, tenho imensos amigos polícias e sei sempre o verdadeiro lado das histórias, aqueles lados que nunca saem na comunicação social.

Assusta-me ver a facilidade com que as pessoas utilizam o racismo, as etnias, para conseguirem protagonismo, conseguirem o que de uma forma “normal” não conseguem. Se há coisa que mais detesto é pessoas a fazerem-se de vítima, mas começo a perceber que essa é uma boa maneira de conseguirmos certas coisas.

Assusta-me ver como as pessoas faltam ao respeito umas às outras. Como a vida do próximo pouco ou nada importa. Assusta-me saber que as próximas gerações vão viver neste mundo, cruel, selvagem.

Assusta-me ver crianças de 9 anos a pedirem à mãe para morrerem, porque sofrem de bullying na escola, o sítio onde deviam apenas aprender a escrever e a ler. Sofrem num sítio que os devia proteger, que os devia fazer sentir seguros, mas isso não acontece, porque as escolas, a maior parte delas, pouco lhes importa esse lado. Importa-lhes a reputação, o prestígio.

Vivemos num mundo onde crianças cortam os pulsos, porque não aguentam a humilhação, o desespero, o sofrimento de serem diariamente humilhados. Vivemos num mundo onde crianças, que deviam brincar e aprender a crescer de forma tranquila, levam armas para as escolas e matam os rufias que as humilham. Falamos de crianças, não de adultos. Falamos de crianças que deviam ficar magoados por jogarem à bola e serem felizes, que esmurram os joelhos, porque se estão a divertir, e não verem como usar uma arma.

Sim, nem tudo é mau, é verdade, mas, infelizmente, o mau consegue sempre sobrepor-se ao bom.

Vivemos num mundo que me assusta, mas que tento todos os dias, por muito pouco que seja, melhorar um bocadinho. Um sorriso, um olhar, um bom dia, um ajudar sem pedir nada em troca. Pequenas coisas que podem mudar muito. Todos nós temos o poder para mudar o mundo. Basta querermos e acreditarmos nisso.

Sejam simpáticos, sejam amáveis, respeitem o próximo. Só vivemos uma vez e viver uma vida de ódio, raiva não vale a pena. Estamos a desperdiçar o que de melhor temos, a vida.

#vamosdizernaoaoodio#

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