Quando for grande quero ser…

Muitas pessoas decidem, em pequenas, o que querem ser quando forem grandes e cumprem com esse desejo. Conheço uma cabeleireira, com mais de cinquenta anos, que desde menina desejava essa profissão; outra pessoa, contabilista há mais de trinta, nunca conheceu outra vocação; outra, também com mais de meio século de vida que é nutricionista, desde que pôde escolher, e continua a amar o que faz; podia continuar por aí afora com médicos, enfermeiros, bailarinas, costureiras, etc.

Depois, existem as outras pessoas. Aquelas que queriam ser arquitetas, mas não conseguiram por causa de certas cadeiras; as que queriam ser médicas, mas as médias não foram suficientes para entrar; as que queriam ser cantoras, mas a voz não deixou; os que queriam ser atores, mas os pais não aceitaram; aqueles que queriam ser polícias, mas o negócio de família exigia a sua presença; as que queriam ser atletas de competição, mas uma lesão afastou-as para sempre; aqueles que estavam na dúvida, mas acabaram pressionados pelos pais a tirar o curso ambicionado por estes…

Dentro deste último grupo podem se incluir, também, aqueles que queriam ser muitas coisas e não se conseguiram decidir por nenhuma, ou, por motivos de necessidade económica, aceitaram o melhor emprego possível. Experimentaram diversas profissões e alguns foram percebendo do que gostavam e do que não gostavam. Entre estes, há os que, mesmo não gostando, continuaram na mesma função e os que arriscaram mudar para outra. Alguns, ao longo do percurso, vão percebendo o que os faz mais felizes e outros vivem uma vida inteira sem descobrir, sem grandes objetivos. Ou, talvez até saibam, mas acomodam-se, pois, essa mudança iria exigir estudo, trabalho e correr riscos. Nem sempre todos gostam de arriscar e nem todos podem porque lhes é “exigida” a presença no legado familiar.

Eu incluo-me no segundo grupo. Quis ser várias coisas. Por força maior de variadas circunstâncias, em conjunto, não fui nenhuma delas. Enquanto percebia, aceitei o emprego com a melhor remuneração. Esse era o principal objetivo na altura: trabalhar e ganhar bem!

Continua a ser importante, ninguém consegue viver sem dinheiro. Contudo, também, creio que ninguém consegue viver infeliz, num emprego, uma vida inteira. Se conseguir, acaba por arranjar outro escape, outra ocupação, que o satisfaz e faz sentir realizado. Pode ser na dança, nos trabalhos manuais, no futebol com os amigos ou noutro desporto e/ou atividade qualquer.

A questão é: trabalhamos a maior parte do nosso dia e da nossa vida, não deveríamos derivar prazer disso? Sim. Chegaremos ao fim a poder dizer o mesmo que o Frank Sinatra: “I did it my way”? A vida é uma só e não sabemos o prazo de validade. Aproveitemos o nosso tempo da melhor forma possível em atividades e profissões que nos façam sentir bem, mesmo que só descubramos mais tarde ou mesmo que tenhamos de passar por várias. Não há vergonhas, não há regras, não há um único caminho. Somos todos diferentes, unidos na mesma terra, com uma única vontade em comum: ser feliz! (Infelizmente, alguns, neste momento, apenas querem sobreviver.)

Cada um, deve decidir, por si próprio, qual é a melhor forma para se sentir alegre, realizado, bem, saudável e de braço dado com a vida.

Nota: este artigo foi escrito segundo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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