A semana foi, sem dúvida, marcada pela queda do avião A320 da Germanwings nos Alpes, provocando a morte a 150 pessoas. Segundo as últimas notícias e teorias da conspiração à parte, tudo indica que o acidente terá sido provocado pelo co-piloto, Andreas Lubitz, um jovem de 27 anos, que, ao que tudo indica, não deveria ter embarcado, devido a ter-lhe sido dada baixa médica. Algo que terá ocultado.
Andreas Lubitz tinha 27 anos e um historial clínico de depressão, desde os seus 20, ou 21 anos. Tinha, inclusive, estado parado durante um ano e meio, em 2009, para tratamentos a uma depressão profunda. Se, efectivamente, terá sido o co-piloto a provocar, deliberadamente, a queda do avião, ao contrário do que muitos meios de comunicação social estão a explorar, não estamos com um caso de um “louco”, ou de um “assassino”, estamos sim com algo muito mais intenso e grave, que envolve todos os responsáveis pela companhia aérea e, acima de tudo, é mais um grande alerta para a nossa sociedade.
O que se passou na cabeça e, acima de tudo, no coração deste jovem nunca nos passará pela ideia. Nunca teremos sequer um pequeno vislumbre de tudo o que este ser humano vivia no seu dia-a-dia, do seu sofrimento, de tudo o que ele, provavelmente, nem sequer conseguia exprimir. Se o seu acto o torna um assassino, talvez, mas também pede para nos debruçarmos de forma consciente sobre o porquê de continuarmos a ter casos de depressão que levam ao suicídio e ao homicídio. Pede também que, antes de apontarmos o dedo e julgarmos seja quem for, saibamos ver que todos nós somos co-responsáveis por tudo o que é vivido na sociedade, nem que seja pelo simples acto de ignorarmos o que se passa mesmo ao nosso lado.
Escrevia numa das últimas crónicas que somos todos números para a sociedade, porque nos tornámos nesses mesmos números. Mantenho e reafirmo, pura e simplesmente, porque continuamos a ser uma sociedade onde não se vive socialmente, onde vivemos uma ilusão de desenvolvimento, que, na verdade, é apenas uma realidade de egoísmo e materialismo. Ignoramos o nosso semelhante e o que ele vive. Não somos capazes de estender a mão a quem necessita, não somos capazes de amar e muito menos de nos amarmos a nós mesmos.
É muito fácil julgar e apelidar este jovem de terrorista, de assassino, de louco e de tantas outras coisas, mas quantos à volta dele foram capazes de olhar para a pessoa que ele era e ter a consciência do seu sofrimento, de que precisava de ajuda? A própria companhia aérea, apesar todo um historial de depressão deste rapaz, ainda o permitiu exercer funções de responsabilidade sobre vidas humanas, quando nem sequer a sua própria vida, com toda a certeza, valorizava, ou pretendia manter. Fruto da ocasião, coincidência ou outra coisa qualquer, este é mais um caso que nos pede que possamos reflectir sobre o desenvolvimento da nossa sociedade e que nos desliguemos um pouco mais das taxas de crescimento económicas, das taxas de juro, das cotações da bolsa, da dívida e de outras que tais. Pede que tenhamos consciência que ao continuarmos desta forma, um dia, não importa se crescemos economicamente, não importa se somos ou não competitivos, não importa se temos ou não dívida pessoal, individual ou pública para pagar, pois seremos apenas um conjunto de zombies, ao estilo de qualquer série norte-americana.
Não poderia terminar esta crónica sem duas importantes palavras. A primeira, a de que sejamos capazes, nos nossos pensamentos e orações, de elevar os nossos sentimentos de compreensão e empatia pelo sofrimento de todas as almas que viram o seu percurso na Terra ser interrompido de forma tão violenta, embrenhadas no tormento e no desespero. A segunda, uma palavra sincera de apreço e de empatia pela dor de todos aqueles que perderam familiares e amigos. Nada substitui a vida dos que amamos, muito menos uma indemnização da companhia de seguros.