Democracia, a Grande Burla

Após milhões de anos em que os antepassados dos humanos e os próprios humanos tinham sistemas políticos simples, normalmente baseados no poder de um, fosse pela força, astúcia, crença, riqueza ou pela combinação dos quatro, a antiga civilização grega criou a Democracia.

Segundo a história, foi diferente de tudo até então, pois todas as decisões eram tomadas e postas em prática pelos cidadãos, em assembleias de discussão, sem grandes influências dos poderes que até então, ditavam o destino de todos.

A história não é linear, mas hoje, depois de várias escolas políticas criadas por pensadores dos últimos séculos, todos concordam que a Democracia é, como se costuma dizer, o menos imperfeito dos sistemas e, por isso, o mais adotado em praticamente todas as nações do mundo.

Contudo, o Sapiens, com todas as suas imperfeições de uma das espécies mais recentes do planeta, em todo este tempo não se conseguiu livrar das velhas forças que caracterizam o poder e facilmente se deixa corromper, transformando as democracias atuais em sistemas que de democráticos, só têm o nome.

Em primeiro lugar, temos o conceito de nação ou estado, uma invenção dos últimos milénios que só chegou ao seu formato atual há poucas centenas de anos e que foram, na verdade uma definição humana da divisão de territórios, inicialmente apenas partilhados por etnias comuns e pela devida misturada com outros povos que habitavam locais próximos, com os sempre presentes mercadores, colonos e migrantes. Por falar nisto, uma das coisas que me intriga, é não termos a liberdade para escolher não ser cidadão de nenhuma nação.

Depois, ao contrário do que defendia o filósofo britânico Jeremy Bentham como o bem supremo, a maior felicidade do maior número de pessoas, os estados não se preocupam verdadeiramente com isto, pondo no topo do interesse o PIB e considerando os cidadãos como recursos, com sistemas de educação, saúde e segurança social dedicados à manutenção desses ‘recursos’, que servem apenas para produzir riqueza, tal como a economia dos nossos dias a entende.

Seria impossível analisar aqui todos os factores que levam as democracias dos nossos tempos a isto, mas a triste verdade é que o sistema capitalista adotado em praticamente todas, as complexas leis da economia e a própria subsistência dos tais sistemas de manutenção dos ‘recursos’, dita que as pessoas, sejam entendidas apenas como bens de poder produtivo ou militar.

Depois temos o facto ainda mais triste de todas as democracias, ao contrário da original, escolheram os sistemas representativos, em que poucos tomam a iniciativa e mesmo estes são obrigados a percorrer um complicado labirinto de leis e exigências, como no caso português a de formar um ‘Partido’ para poder ser admissível para representar os cidadãos, levando ao caciquismo e a governações normalmente divididas entre os dois partidos com mais peso histórico, levando a um desgaste de ideias e, pior ainda, facilitando a corrupção e a falta de sentido de missão.

Na minha opinião, há três coisas que faltam na democracia, principalmente na nossa, um país pequeno, com poucos dos recursos tradicionais naturais valorizáveis na economia atual (petróleo, minérios, produção agrícola e industrial): estabelecer uma missão, um projeto para o país com base no que temos e poucos têm e como converter isso em riqueza para contribuir definitiva e exclusivamente para a felicidade dos cidadãos e mobilizar toda a gente para o fazer.

O que temos e poucos têm é por exemplo o nosso imenso mar, uma fonte inesgotável de recursos de todos os tipos, dos que são valorizados no presente e serão ainda mais no futuro e que vão além da pesca e das atividades de lazer: A biotecnologia, a farmacêutica, as energias renováveis, as ciências através de todos os mistérios que ainda há por revelar acerca da vida que contêm (por exemplo, as espécies com mais longevidade no planeta são todas marinhas), etc.

Para por isto em prática, não precisamos de políticos, precisamos da participação dos cidadãos, desde os cientistas aos empreendedores, dos criativos aos pensadores, de todas as pessoas interessadas em desempenhar o seu papel possível na construção de outro tipo de país, de outro tipo de democracia, participativa, com discussões produtivas e relevantes que levem a decisões eficazes e à sua posta em prática.

A falácia da Democracia contemporânea é a ignorância e a ilusão de liberdade de escolha, preservada por sistemas educativos caducos, por sistemas económicos mal focados, por noções de valor deturpadas e por representantes políticos mal preparados ou apenas mal intencionados, que usam o próprio sistema que os gerou e que contribuem para manter, para usar o velho argumento paternalista de que as pessoas não se interessam e não sabem decidir por si, para se manterem no poder. E resulta.

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