
Por entre a multidão, olho freneticamente procurando um rosto que me diga algo, que me faça sentir alguma coisa.
Verifico que não existem rostos de capa de revista e todos me parecem feios, cansados, completamente normais. Não existem belezas incomuns. Todos e cada um dos rostos para que olho parecem normalíssimos: uns com olheiras, outros com narizes enormes ou demasiado pequenos. Narizes arrebitados, tortos ou abatatados. Marcas de nascença. Sardas, bigodes no masculino e outros no feminino.
Ares carregados, sobrancelhas franzidas. Pessoas com as mais variadas cores de pele e dentro da mesma cor, tantas tonalidades.
Casais que se diria não serem compatíveis, pois junta gordos a magros ou baixos a altos. Agrupam-se em número e género diferentes. Ou sós. Roupas de toda a espécie e de todos os feitios. Muita cor, demasiadas combinações. Rostos maquilhados em excesso, outros sem um bocadinho de cor sequer. A beleza parece não existir. Pessoas a movimentarem-se de um lado para outro, com alguma pressa ou apenas andando.
Cruzo-me com rostos e rostos.
Sei que qualquer um deles esconde a beleza de um ser, amado por alguém, impresso num sorriso que não mostram.
Rostos fechados, que recolhem em si a própria magia da revelação, quando soltam a expressões de alma interior.
Não é isso que vejo.
Apenas me concentro no exterior e verifico que não há dois rostos iguais, mesmo aqueles que são parecidos.
Entendo que somos todos diferentes e que, apenas olhando, não distingo os seus interiores, os seus interesses, a magnitude de cada um. Serão bons, maus? Terão interesses parecidos com os meus? Verão o mundo como eu? Certamente que não. Sexualidades diferentes que não se distinguem pelo olhar ou não se transmitem de maneira nenhuma que não seja a própria natureza.
No rosto, ninguém tem escrito a sua educação, a sua sabedoria, as suas crenças, nem sequer a sua ignorância.
Somos todos rostos diferentes e somos apenas a capa para algo bem maior, bem mais profundo, bem mais valioso.
Cada rosto feio transforma-se, miraculosamente, num ser incrível quando o descobrimos, quando o desvendamos.
Por outro lado, a beleza que nos vendem na televisão e nas revistas, nem sempre escondem coisas bonitas, mas sim muito artificialismo e pouca naturalidade.