35 anos após a obra de Ridley Scott, “Blade Runner: Perigo Iminente” chega-nos a sequela com “Blade Runner 2049”. O que muitos consideram um excelente género de ficção-cientifica, pioneira no estilo neo-noir cativou as audiências da época e ainda a hoje é considerado um filme de culto. Harrison Ford liderou as rédeas no original e agora passou o testemunho a Ryan Gosling.
A premissa mantém-se. Humanos e replicantes continuam a coexistir, apesar das suas desigualdades. A linha que os separa ainda continua a ser muito ténue, e difícil de trespassar. Os “Blade Runners” continuam a perseguir os replicantes ilegais que vivem refugiados da confusão. A desigualdade baseada num rótulo de fabrico volta a ser mencionada. Tal como o tempo real passou, neste filme também avançamos 35 anos. Ridley Scott conseguiu reinventar o original, mesmo como produtor. Na realização destaca-se Dennis Villeneuve, jovem realizador, mas com vários sucessos na manga. “O Primeiro Encontro” (2016) e “Sicário” (2015) são alguns dos seus filmes de maior sucesso.
No epicentro da narrativa, temos o Agente K (Ryan Gosling). Não se prende demasiado com emoções, usa poucas palavras e faz eficazmente o seu trabalho. No questions asked. Com o avançar do enredo, escrito por Hampton Fancher (também esteve presente no primeiro filme) e Michael Green, percebemos que esta personagem vive num conflito interno consigo próprio. K começa a duvidar das ordens que lhe dão, quando descobre um acontecimento que muda a sua prespectiva do mundo onde vive. Além disso vive assombrado com o facto de não ter alma. Será que seria um homem diferente se tivesse? O que mudaria?
A temática de “Blade Runner 2049” reacende o tema existencial entre os humanos e robôs. O futuro está próximo e esta é uma realidade quase possível. O filme não peca por falta de credibilidade. O esforço e empenho são notórios no campo visual. As paisagens futuristas são deslumbrantes. Apesar da narrativa lenta e com muitos tempos mudos, o espectador não se aborrece devido ao hipnotismo visual que Roger Deakins conseguiu com a cinematografia que apresenta. A criatividade da iluminação néon cativa a cada movimento. Quanto ao argumento não é memorável, nem se mantém com frases inspiradoras. As suas citações são apresentadas sobretudo pelo estado mais ambíguo da personagem. Cada um vive insatisfeito com a sua existência, como se falta -se algo que os completa-se.
Sobre o elenco aconteceram muitas surpresas. Apesar do seu protagonismo, Ryan Gosling apresenta uma postura distraída, nada típica do ator. Harrison Ford e Jared Leto também marcam presença no filme, mas nada muito explorado. Os holofotes neste filme estão direcionados para o elenco feminino. Ana de Armas, que interpreta uma perfeita mulher futurista. A atriz quase desconhecida, e a dar os primeiros passos em Hollywood conseguiu o destaque, por momentos ofuscando a presença de Gosling. O mesmo acontece com Robin Wright e Sylvia Hoeks que lideram com mestria os seus papéis.
Não podia fazer crítica a “Blade Runner 2049” sem mencionar a banda sonora. Benjamin Wallfish, junta-se a Hans Zimmer para a criação deste fenómeno musical. A música transcende todas as expectativas e ecoa fortemente pela sala. O forte timbre acompanha o filme desde o início ao fim, provocando momentos de grande tensão, mas penso que esse seja o propósito.
“Blade Runner 2049” é um filme pesado e que nem sempre pode agradar a todos. Contudo a sua fantástica componente visual, música e elenco forte, tornam este filme num serão interessante. Não desmoralizem aqueles que procuram muita ação e tiros laser, esta obra cinematográfica vale a pena devido ao seu conteúdo emocional. Não é fácil de ver, mas no final vão pedir para a história continuar.