Li algures que aquilo que nos encanta nos inícios no outro é o mesmo que nos desencanta no fim de uma relação. E apesar desta ideia me parecer absolutamente maravilhosa e irónica e fazer-me percorrer mentalmente os encontros e desencontros que tenho tido ao longo da vida, não é demais salientar que para além do (des)encantamento, as relações amorosas e as suas fissuras ainda são muito mais subtis e sedutoras, dolorosamente fascinantes.
Ao percorrermos o caminho a dois, todas as nossas histórias se entrelaçam e se numa separação conhecemos o verdadeiro eu de outra pessoa (outra das frases que também já li algures), por outro lado e inevitavelmente conhecemos o pior de nós próprios.
Sempre acreditei que em qualquer experiência, inclusive nestas que fazem parte desta estranha dicotomia que são as crises no amor, devemos sempre levar todas as situações até ao fim, capacitarmo-nos que fizemos mesmo tudo quanto podíamos, num estranho equilíbrio entre respeitar o caminho e a opinião de quem queremos. Porque a perda do outro não deixa de ser uma morte, um fechar permanente de uma porta, um aceitar muito doloroso que uma história do presente se mutou numa memória do passado.
Mesmo quando todos os sentimentos são praticamente inexistentes, a palavra fim é um descalabro, uma agonia que nos permanece aguda por muito tempo num reconstruir que significa sempre levantar e que se torna cada vez mais difícil na proporção do número de portas que vão sendo fechadas.
Não é fácil reparar as fissuras no amor. Sobretudo se nos apercebemos, quase sempre subitamente, que poderá ser difícil curar em artes de sedução, todas as mágoas, palavras erroneamente ditas ou olhares de ódio. Ou na pior hipótese possível, o desencantamento de quem já nos amou. A fórmula é simples: basta estarmos os dois no mesmo barco e na mesma direcção, basta os dois sentirmos ainda qualquer coisa suficientemente forte e que valha tanto a pena, que as feridas sejam apenas cicatrização de histórias que ficam por contar.
Aprendi que o medo da solidão joga com todos os nossos medos. Contudo, os medos nunca podem ser maiores do que a nossa vontade de felicidade e do que a própria força que nos rege. O amor vale a pena, reconstruir e reparar o que é necessário numa relação é imprescindível. Perceber que tudo é feito e dito sem arrependimentos ao olhar para trás.
Porém, fechar a porta quando não há mais nada a dar ou receber, é absolutamente necessário. Sem deixá-la entreaberta. Mesmo que doa se entalarmos a mão.