Os Vingadores

“Vingadores: Guerra do Infinito” chega aos cinemas portugueses a 25 de abril, por isso nada melhor que relembrar o primeiro grande filme do MCU.

Desde a cena pós-créditos do filme “Homem de Ferro” (Jon Favreau, 2008), no qual Robert Downey Jr. viu a sua carreira completamente revitalizada, que a Marvel andava secretamente a juntar as peças de um puzzle para nos apresentar uma versão cinematográfica de “Os Vingadores”. Quando a verdadeira intuição do estúdio não poderia ser mais escondida, os fãs dos filmes concebidos até então, e naturalmente de todas as séries de televisão e da banda-desenhada, entrarão em desespero e, por certo, impaciência quanto à estreia daquele que seria um dos projetos mais ousados e arriscados do estúdio.

Estava prestes a chegar às salas “Os Vingadores”, o filme que reunia alguns dos mais conhecidos super-heróis da Marvel, e que angariaria 1,5 bilhão de dólares nas bilheteiras de todo o mundo em 2012, para além de conseguir ser nomeado ao Óscar de Melhores Efeitos Visuais. 6 anos depois de o assistirmos no cinema, e após vários filmes de super-heróis (bons e maus, não é isso que importa), como poderemos olhar para “Os Vingadores”, hoje?

Já lá vão mais de 50 anos quando o nome da iniciativa “Os Vingadores” foi referenciado pela primeira vez. Estávamos em 1963 e o mês era o de Setembro. Foi quando Stan Lee – aquele o senhor de cabelos e bigode brancos, agora com 95 anos, que faz dezenas de aparições surpresa nos filmes do Universo Marvel -, Jack Kirby e Dick Ayers apresentaram ao mundo os “The Avengers”, uma banda-desenhada editada numa revista com o mesmo nome. Estavam presentes vários heróis de renome na época como Homem-Formiga, Homem de Ferro, Vespa, Thor e o Hulk, que, na verdade já tinham sido previamente apresentados em banda-desenhadas com histórias a solo.

Sobre aquela revista é importante dizer que serviu como óbvia resposta ao sucesso que a DC Comics alcançara com “Justice League” introduzida em 1960. A DC Comics estava aliás no mercado desde 1938, quando publicou a história do Super-Homem, em junho desse ano. Deixemos, no entanto, esta rivalidade de parte, e partamos imediatamente para a viagem com o primeiro filme de “Os Vingadores”. No filme contam-se os seguintes super-heróis: Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Hawkeye (Jeremy Renner), reunidos pelo inteligente Nick Fury (Samuel L. Jackson).

Visto hoje, “Os Vingadores” parece menos ambicioso e até parece não ter nada de extravagante se comparado com os filmes mais recentes do Universo Cinematográfico da Marvel (como o caso de “Capitão América: Guerra Civil”, “Thor: Ragnarok” para já não falar de “Guerra do Infinito” que estreia no final do mês). Isto acontece, porque a Marvel tem crescido nos orçamentos, o que favorece um maior número de personagens, de atores e, inerentemente, de histórias. Neste filme em particular, Loki (Tom Hiddleston) volta a causar o pânico, desta vez ao ser enviado para a Terra pelos Chitauri, uma raça alienígena que pretende dominar os humanos.

A Loki é prometido que será o soberano do planeta, o que o faz roubar o cubo mágico dentro de instalações da S.H.I.E.L.D. – o Tesseract -, que lhe dá enormes poderes. Com isso, controla as mentes do Dr. Erik Selvig (Stellan Skarsgard) e de Hawkeye, que passam a trabalhar para ele para abrir um portal entre a terra e o universo cósmico. É então que para tentar resolver o problema Nick Fury (Samuel L. Jackson) convoca o grupo de humanos e um Deus, que jamais haviam trabalhado em conjunto. O problema é que estes super-heróis tendem a discutir por tudo e por nada.

A premissa do filme não tem nada de novo ou de diferente quanto aos restantes filmes de super-heróis, mas tem algo capaz de manter o espectador agarrado ao ecrã, muitas vezes por seguir a forma de série, justamente porque as personagens não nos são completamente desconhecidas. Mesmo assim, nesta aventur,a Joss Whedon teve o cuidado de nos dar a conhecer o ponto de vista de cada um dos super-heróis, dando espaço às personagens para respirarem. É isso que se torna fundamental para os momentos mais intensos, nomeadamente aqueles que antecipam as sequências de mais acção e os outros que dizem respeito às discórdias entre as personagens. Vejamos a cena em que os super-heróis estão todos reunidos no laboratório onde Bruce Banner (ainda sem se ter transformado em Hulk) tenta decifrar a energia que emana no Tesseract. É nesse momento que percebemos que todos têm visões diferentes sobre a situação, intensificando o ego de cada um de forma credível. Mesmo assim, quando são ameaçados pelo inimigo não hesitam em reunir esforços.

A forma como as histórias se unificam prova igualmente o quanto “Os Vingadores” está bastante próximo de uma verdadeira banda-desenhada. O filme sobrevive ainda pela sua comicidade, principalmente com as expressões de Tony Stark que apontam diretamente a uma memória popular cinematográfica, por exemplo, com a referência a “O Senhor dos Anéis”, uma vez que compara Hawkeye a Legolas.

De resto, não há muitas mais coisas a dizer sobre o filme. “Os Vingadores” só prova que o grande público continua a querer histórias dominadas por forças maniqueístas, em que os bons irão sempre vencer e derrotar o Mal. O espectador é alienado nesta ânsia por um cinema maior do que a vida, onde os conflitos são solucionados pelas personagens boas de espírito. Aí, poderemos confirmar que predominam as mais básicas noções de espectáculo cinematográfico, quer pela espectacularidade das imagens com o crescente gastos avultados em efeitos especiais, quer na espectacularidade dos sons e sobreposição de ruídos. O espectador cede à imagem, no sentido em que não é forçado a questionar aquilo que observa. Temos portanto, um espectador menos crítico, porque não é isso que interessa ao estúdio, que aceita tudo o que se apresenta diante dos seus olhos, como um verdadeiro consumidor de produtos.

Hollywood vê aqui uma verdadeira oportunidade de solidificação de um género na indústria, semelhante ao western e ao musical na Era Dourada. Estamos perante filmes entendidos como produtos, como qualquer objecto que se usa, que depois se gasta, antes de adquirirmos outro igual. A única finalidade é garantir a sua rentabilidade, que permita a produção, e futura comercialização, de outros projetos semelhantes.

Por isso, vale a pena insistir na ideia de que estes filmes de super-heróis, numa remodelação das fórmulas dos estúdios, recuperam duas lógicas da Era Dourada, o studio-system e o star-system. Não esqueçamos o quanto a Marvel motiva atores da famosa “A-list” a integrar os seus projetos. São os casos mais notáveis as presenças de Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson, Anthony Hopkins, Cate Blanchett, Michael Douglas, Bradley Cooper, Vin Diesel, entre outros. A presença destes atores em filmes de super-heróis não deverá ser vista de forma pejorativa porque, na verdade, à medida que o público conhece estes desempenhos pode interessar-se por outros trabalhos destes atores, por vezes pouco conhecidos.

Daí que estes filmes de super-heróis continuam a ser a marca mais poderosa do cinema contemporâneo. Uma que não impeça a produção de outros filmes, mas que permita uma maior variedade de escolhas para espectadores. Este é que terá que ser suficientemente inteligente para saber que pode escolher.

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