Vivemos um momento da atualidade muito peculiar. Com isto não digo que seja o pior ou melhor; julgo que, como eu tudo, terá as suas vantagens e as suas desvantagens.
A sociedade reforça o rápido e o instantâneo de tal maneira que tudo parece lento e complicado. Amor tem-se visto em apuros, já que, em tempos de egocentrismo, os sentimentos são dos primeiros a sofrer.
Será que o apelo ao individualismo transformou o Amor em algo que em vez de sentirmos, consumimos “fresco”, de preferência?
O teu amor em mim
Não será sempre assim, certamente. Porém, à nossa volta, na nossa rede de amigos, nos ícones que admiramos nos media, prolifera uma vertente um tanto narcisista do amor, chamemos-lhe assim.
Cada vez mais ouvimos falar de relações onde o mote é “vamos sem compromisso” e “logo se vê”, que esconde nestas palavras a busca incessante de alguém que sintamos que gosta de nós, que valide quem somos e nos confirme naquilo que pretendemos mostrar ao mundo.
Amar, gostar e admirar passam para segundo plano e representam, em muitos casos uma reação, não ao que o Outro é, mas àquilo que o Outro nos faz sentir.
Reflito um pouco sobre tudo o que pode estar “dentro” desta ideia. Quando deixamos de ver o Outro como alguém único (ou essa deixa de ser a nossa prioridade na relação), este continua a poder ser amado? Ou apenas consumido, como um produto que nos transmite determinadas sensações?
O parceiro que escolho porque “gosta de mim e me valida”, é apenas um prolongamento da pessoa que eu sou ou quero ser. Eu continuo a estar focada em mim, na minha energia, nas minhas necessidades e nas minhas buscas interiores e exteriores.
É um amor narcisista que deve ser consumido “fresco”, por razões diversas, e uma das quais é porque procuramos sempre o que não temos.
Será que este amor nos pode fazer voar numa grande paixão? Nada é impossível, mas talvez não possa. Este amor é calculado, obedece a critérios e algoritmos que podem, ou não, corresponder (fazer “match”) às necessidades individuais e tão específicas daquele que segue a sua busca, tornando o processo muito pouco instintivo e muito mais “especializado”.
“Amor por conveniência”
Tratamos o Amor como se de um estudo científico se tratasse. Muitas vezes, fazemo-lo porque estamos tão centrados na busca dos afetos que precisamos para nos validar e que parecem combinar com o crescimento e estatuto que desejamos, que agimos como consumidores. E estes examinam o produto, libertando-se de toda a espontaneidade, e analisam os critérios e as revisões dos especialistas.
Há quem o faça por sentir que precisa e quem o faça porque não sente nada.
Haverá quem não sinta nada porque o faz.
Estaremos a voltar aos relacionamentos “por conveniência”? Talvez a conveniência agora seja outra.
Não encontrem nas minhas palavras certezas, profecias ou adivinhação. Em tudo o que escrevo hoje, deixo questões e mais questões, não pretendo deixar afirmações ou generalizações.