Na crítica comum existe um ritual extremamente necessário: o desmembrar de planos, luz, escolhas más ou boas do diretor e da direção de arte. Muitas vezes o problema está na direção de fotografia, extremamente escura, que nos põe a pensar se o écran ou os nossos olhos não terão problemas.
O filme dirigido por Jonathan Demme, lançado na década de noventa é um marco até hoje. Ele fez-nos criar empatia com um Psicopata.
Hannibal Lecter, interpretado por Anthony Hopkins, faz-nos perceber a violência e imoralidade de um assassino, com um charme intrínseco a um homem extremamente inteligente, que não tolera descortesias como a de seu colega de cárcere Miggs quando este ejacula no rosto do objeto de fascínio de Hannibal, Clarice Sterling, interpretada por Jodie Foster. Porque uma cadete ainda não formada pelo FBI foi escolhida para conversar com ele? Em uma perspetiva psiquiátrica, ela era a única que poderia ser perscrutada pelo psiquiatra canibal e criar uma relação com o mesmo, pois ela não o via como um espécime a ser estudado. O que fascinou Clarice e nos fascinou é que Lecter é um gentleman, dotado de uma memória extraordinária e de uma mente inteligente que pode quebrar as convenções, as regras sociais, a moralidade e principalmente o livre-arbítrio.
O filme de Demme manda às favas esse pressuposto inerente a nossa formação “cristã” ou de “crenças”. Independentemente do recurso na história paralela do clichê dos filmes de suspense e horror, ao olharmos para composição de Buffalo Bill, interpretado por Ted Levine, reconhecemos uma aglutinação de todos os dados constitutivos do perfil de um psicopata. É nesta personagem que se torna desnecessária toda a investigação de uma mente fragmentada e sem refino.
Críticos da época acharam complicado nesse ponto repetir estereótipos e sua repercussão na comunidade LGBTQIAPN+, pois mais uma vez, os marginalizavam e emplastavam em algum tipo de desvio comportamental. Uma frase muito repetida em todos os filmes do género é: eles caçam dentro da sua comunidade étnica. No entanto, sabemos hoje que essa tese pode ser refutada se pegarmos de exemplo um serial killer não saído da imaginação de alguém, como: Jeffrey Dahmer. E se voltamos a Hannibal ele não precisou caçar suas vítimas, ele era uma porta acolhedora para ouvir os anseios humanos em sessões pagas de psiquiatria. Agora o que o fazia comer suas vítimas, que escolhas ele tinha? Psicopata tem troféus, como se ao guardar algo se prestasse a uma homenagem quase que santificada do assassinado. Hannibal os comia, isso pode ser considerado “guardar” relíquias? Nada em Lecter é religioso para ser antropofágico, mas nada nele é compulsório e descuidado para que seus assassinatos diminuam a empatia que criamos com ele.
A história de pano de fundo da caçada a Buffalo Bill, não nos desgruda de Hannibal nem de sua parceira em cena, Clarice. E ficamos com aquela pergunta pertinente e semi-respondida pela agente do FBI: seria uma descortesia de Hannibal matá-la, mas o que significa aquele pequeno lampejo de afeto do roçar dos dedos?
Ficha Técnica: O Silêncio dos Inocentes
Uma jovem deve receber a ajuda de um assassino canibal manipulador e preso para ajudar a capturar outro assassino em série, um louco que ataca suas vítimas.
Jonathan Demme
Thomas Harris Ted Tally
Artistas: Jodie Foster, Anthony Hopkins, Lawrence A. Bonney…
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Português do Brasil