De que cor é a dor? A que sabe um qualquer sofrimento? Quantas horas já gastei com um lamento sem sentido? Quantos dias já terei perdido a contar as minhas tristezas? Sim, onde será que encontro a resposta a estas perguntas tão complicadas que a alma repetidamente me faz? Como poderei calar um coração que não entende onde se perdeu a minha felicidade?
Acreditei que a vida era dura. Que o caminho da vida era feito à custa de muito sofrer. Senti o cheiro mórbido de quem se julgava num grande inferno.
Só que quando toquei na realidade da vida as minhas mãos sentiram outro perfume. A vida não cheirava mal e à minha frente crescia um paraíso. Por isso, a minha mente ficou confusa, com as ordens da alma que me obrigava a viver longe de tudo o que me fizesse chorar.
Viver era amar e amar rimava com sorrisos, ou então com paraísos.
A mente repetia com toda a sua força que dor era vida. Que viver implicava sofrer. Que amar era apenas uma ilusão que nos leva até ao sofrimento.
E eu, seguia pelas ruas do esquecimento onde não se vive, apenas se sobrevive.
A alma insatisfeita gritou finalmente e silenciou a teimosa razão que não se queria calar. Viver tinha outra tradução, e portanto era preciso deixar de ouvir a mente que faz tudo de forma diferente.
A dor é indolor. É apenas o calor de algo que nos incomodou. É uma reacção defensiva do corpo perante um obstáculo que se interpõe entre o coração e a mente.
Quando percebemos isso ela está controlada. Descobrimos o que ela nos faz sentir e a dor diz-nos que estamos mais fortes e com força para continuar esta caminhada.
O sofrimento sabe a passado. Sabe a momentos menos bons, que guardamos na nossa memória. São instantes em que uma tempestade abalou a nossa existência. Sofrimentos são vestidos arrumados no fundo de um armário, que já não nos servem por estarem demasiado justos ao nosso corpo.
E por isso mesmo, devemos deixa-los ali bem arrumados. O pó do tempo e do esquecimento fará com que eles deixem de fazer sentido.
As horas gastas com os lamentos serão horas que não poderemos reaver. Serão horas que passaram por nós sem que as tenhamos vivido. Serão a chuva da vida, que rega as dores e o sofrimento sem que daí possam nascer flores. Lamentos são plantas sem raiz que jamais irão crescer no nosso jardim. A vida só gera plantas criadas com amor.
Sofrimento é um adubo que não tem efeito no presente, é o mesmo que destruiu a história que tinha a cor do passado. Sofrimento é um veneno que se faz desfalecer a ele próprio. Por isso, os dias perdidos com as tristezas serão dias em que não vivemos. Os dias em que escutamos a razão e que fizemos escolhas sem sentido serão apenas dias riscados do calendário. Serão dias em branco na agenda do amor.
Resta-nos então esquecer todos esses contratempos e viver. Não podemos continuar a perder segundos desse tempo limitado.
Então dores, eu vou ali ser feliz e viver a minha vida sem a vossa presença. Sofrimentos, lamentos ou tristezas serão apenas pequenas pedras nesta vida tão imensa que eu decidi abraçar.