O futuro dos reality-shows parece-me cada vez mais incerto. ‘A Quinta’ estreou-se com uma média de 1 405 600 telespectadores, mas rapidamente começou a perder fôlego, principalmente depois da estreia do programa de talentos da estação pública – ficando mesmo abaixo do milhão de espectadores (o número mais baixo na história dos reality-shows, em Portugal). Se, por um lado, a vida dos não-famosos, pessoas como nós escolhidas a dedo por um produtor ambicioso, torna-se cada vez mais apelativa ao Zé Povinho – quem não gosta de ver uma boa briga, intrigas e (des)conjecturas socio-(nada-)culturais? -, a verdade é que está a ser “mais do mesmo”, num mundo onde o que conta é o entreter, mais do que o formar. Uma pergunta parece emergir, deixando os futuristas televisivos perante um paradoxo problema: será a cultura um bom meio de entreter, num mundo onde o maior entretinimento do último século mostrou-se ser o mal do vizinho mais próximo?
O contínuo registo de audiências demonstra que as estações dos canais generalistas estão a levar esta competição mais a sério do que nas últimas décadas e que nenhuma delas está disposta a perder ou diminuir o território que conquistou junto dos espectadores. Uma batalha digna de um filme de Godard, este é o mundo em que mergulhamos cada vez que assistimos a um programa generalista, acessível com um mero clique de comando na mão, enquanto bebe uma cerveja no sofá. E é bem por isso que esta é uma guerra sua: encoste-se, deixe-se conquistar e faça a sua escolha.
“Na tentativa de recuperar o primeiro lugar, a estação de Queluz de Baixo decidiu alterar a sua programação. O canal vai transmitir um episódio especial de A Única Mulher, sendo A Quinta transmitida mais tarde. Para o rurality show, várias são as «surpresas» preparadas, entre outras, a presença de Cristina Ferreira e a entrada garantida de Larama, concorrente já expulso, e Gisela Serrano”. Uma aposta que, 5 anos antes, seria impensável. Uma escolha televisiva que nos leva a contar os dias que ainda restam a estes programas onde pessoas nada mais são do que fantoches da opinião pública, que se vão auto-limitando no que toca aos seus direitos pessoais, nomeadamente, ao bom-nome e à sua imagem. O que buscam, geralmente, não vai muito além de fama, poder e tentativas ilusórias de trabalho nos meios de comunicação, à custa da sua recém adquirida “popularidade”. Uma exposição consentida que permite ao espectador querer ver mais ou nem olhar para o que estão a representar, mas que o impede de ir mais além e ter acesso a toda a cultura, entretenimento e bom assunto. Esta mesma falta de escolha parece estar a deixar as audiências fartas de não existir nada mais preparado para a sua refeição. E é aí que entra a ficção nacional.
Atendendo às palavras de Teresa Guilherme, “corremos o risco de isto ser o começo do fim dos reality-shows!” Um fim antecipado por alguns, mas que não prevê uma solução diferente do que até então se fez: perde-se o tempo destes programas, compensa-se no tempo de ficção. Afinal, longe estão os tempos em que o serão de domingo à noite era passado juntos de filmes exibidos para famílias inteiras, não havendo canais opcionais repletos de series e novos desafios. Os tempos mudam, e as vontades vão acompanhando o ritmo. Mais uma vez, estamos numa era televisiva que chega ao fim – desprovida de verdadeiro conteúdo, alma e dignidade, mas que foi bem estruturada e aproveitou todos os meios disponíveis até atingir a necessária saturação do mercado.
Com o fim, sempre temos uma nova oportunidade de começo. Desta vez, o começo ainda não tem conteúdo, nem forma marcadas, mas com toda a certeza já tem hora agendada. Estaremos a inverter táticas e a cultura será o meio escolhido para obter vantagem e diferenciação ou todo o corpo televisivo partirá para as táticas de canais especialistas, levando a uma expansão da ficção? Cenas dos próximos episódios, a não perder…