Dennis Villeneuve é um dos realizadores do momento. Os trabalhos que tão bem coordenou, nomeadamente Raptadas, Homem Duplicado, ou Incendies – A Mulher que Canta, foram nomeados a um ou outro prémio da indústria de Hollywood. Contudo, com Sicario – Infiltrado, Villeneuve eleva a fasquia e cria um ambiente de pressão ao espetador, em que o mesmo se sente amarrado aos assentos da sala de cinema.
Sicario significa hitman, isto é, assassino contratado. Logo de imediato, o filme demonstra que algo não está bem no mundo de operações das agências secretas norte-americanas, o FBI e a CIA. Ambas colaboram na procura do chefe de um cartel de droga mexicano, Fausto Alarcon (Julio Cedillo). Em consequência de uma descoberta macabra, as investigações colocam no terreno uma mulher, Kate Macer (Emily Blunt), e o seu parceiro e único amigo, Reggie (Daniel Kaluuya). Contactamos de perto com uma personagem idealista que tenta transmitir valores a um território que à partida está humanamente condenado. Envolta em intrigas, Kate exige aos seus superiores, Dave Jennings (Victor Garber) e Matt Graver (Josh Brolin), que lhe contem a verdade, ao mesmo tempo que observa o misterioso agente Alejandro (Benicio del Toro).

O enredo gira em torno do debate que o pós-11 de Setembro implementou. Nos dias de hoje, muitos norte-americanos continuam desesperados pela justiça, seja qual for os meios necessários para a alcançar. Longe disso, surge Kate que quer fazer valer o princípio da moralidade. Emily Blunt (que oferece a melhor interpretação da sua carreira) pode ser contrariada inúmeras vezes pela personagem de Josh Brolin, mas é com quem mais nos identificamos, sobretudo, pelo seu ponto de vista minimamente correto. Blunt arrisca, com aquele seu tique nervoso na trama, a ser nomeada ao Óscar de Melhor Atriz. A câmara de Villeneuve deixa, por poucas vezes, de lhe dar atenção. Já Benicio del Toro está assustadoramente impressionante e é o complexo oposto à personagem feminina. O facto de estar desesperado por fazer justiça pelas suas próprias mãos, faz-nos interrogar sobre o que faríamos no seu lugar.

A grandiosidade deste filme reside também no seu trabalho técnico. Com Roger Deakins (nomeado ao Óscar por Skyfall) num poderoso trabalho de fotografia, somos levados por dois países adentro, através do seu declive, dando a perspetiva que o ser humano não é mais do que uma pequena bactéria, que consume tudo ao seu redor. Aliás, movemo-nos para nenhures. No avião, automóvel ou autocarro somos conduzidos forçosamente à obscuridade daquele terreno. De acrescentar a banda-sonora do compositor Jóhann Jóhannsson, que bem nos mistura no suspense.

Os progenitores representados na história persistem em justificar a existência dos seus filhos, como meio de escape aos erros que cometem. Porém, tal como nos é mostrado, também essa geração está condenada, independentemente da tentativa de jogar a bola para a frente. A fazer lembrar Este País não é para Velhos (2008), dos irmãos Coen, Sicario transmite algum realismo. Assim, denuncia-se um sistema sórdido, cujas personagens são meros instrumentos, sendo sempre esmagadas por um poder sem fim à vista.
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