Impelidos pelos ciclos de notícias, que agora não descansam, pelas redes sociais que não dormem e pelos “smartphones” que não param, somos conduzidos a um estado de alerta permanente, a uma exigência implacável para termos uma opinião. Li algures que muita informação, como é apanágio destes tempos, nem sempre é boa informação e mesmo sendo boa não quer dizer que a saibamos interpretar corretamente. Afinal de contas, a qualquer um de nós é exigido que seja um “todologista” — Alguém que sabe de tudo sem ser especialista em nada. Na minha opinião, o pensamento é algo refletivo, ou seja, não é necessariamente para ser partilhado. Até, porque nós, humanos, precisamos de tempo para processar, entender e esclarecer conceitos. Tudo o que acima mencionei, leva a que o ambiente se polarize e a que pessoas outrora disponíveis e compreensivas se tornem fechadas e intolerantes ao pensamento alheio. A noção é a mesma dos dois lados das barricadas que se formam a propósito de tudo e de nada.
Tudo isto redunda, na máxima exigência e a mínima ponderação quando se trata de falar de outras pessoas. A empatia escasseia, perante a necessidade de defesa que temos para enfrentar o medo que enfrentamos. Para mim, o nacionalismo difere do patriotismo. Sou patriota, porque gosto da minha pátria, respeito a sua história em todos os momentos e acho o revisionismo, algo abjeto e que não visa esclarecer, mas sim doutrinar aqueles a quem se pretende influenciar.
O nacionalismo, que diz elevar o povo e por consequência o país, tende a incutir valores baseados no orgulho, na sua, muito própria, noção de justiça, na lealdade e no respeito sempre exigido e nunca conquistado. Minorias que devem ser controladas, vigiadas e agravadas pelo estado, um bom exemplo disso são os refugiados. Antes de serem humanos, são criminosos, são parasitas, cidadãos de segunda categoria que dependem do nosso altruísmo sobranceiro para se manterem vivos, portanto, têm que ser sujeitos aos desmandos de quem é legitimo habitante dessa terra. Portanto, é mais que evidente que esta retórica carece de um simples contraditório: E se fosse consigo? E se fosse na sua família? O remoque dado a estas questões normalmente é que os nacionais não têm os apoios de que os emigrantes dispõem e são pagadores de impostos.
A verdade, é que existe, cada vez mais enraizado, o medo do que estas pessoas representam. Medo este, que se escuda numa multiplicidade de fatores. O mais primário é o medo cultural, ou seja, das diferenças e de como isso retira o sentido de pertença, de comunidade que se representa e vê de uma determinada forma, quase como se fosse uma corrupção da mesma. Se é visível que as diferenças culturais existem e que nem todas combinam entre si, também é verdade que o esforço para as homogeneizar em vez de as integrar, muitas vezes leva à exclusão dos refugiados. Temos também o medo na vertente salarial, ou seja, que estas pessoas venham baixar os salários da zona em que se inserem, visto que “aceitam qualquer coisa”, para além das condições em que vivem. Convenientemente, ignorando que as condições são dadas pelos patrões/senhorios e restante rede “mafiosa” que pretende viver do lucro fácil e do aproveitamento total das condições socioeconómicas em que estes se encontram. Mais ainda, porque, na verdade, a escolha não é muita e quem foge raramente exige. Quem acolhe, nesta sociedade é visto como procura de autopromoção ou de quem nada mais tem que fazer.
Se olharmos para a história recente, vemos que tudo é muito mais exponencial do que logarítmico, ou seja, o avanço é mais veloz do que aquilo que conseguimos absorver. A isto, podemos juntar o ritmo de trabalho atual bem como tudo o resto que já foi referido neste artigo. Assim é plausível que possamos pensar que com tantas solicitações e distrações, somo como que levados pelo mundo. As vozes são cada vez mais de nichos de “mercado”, caixas cada vez mais pequenas, em que cabe qualquer pessoa, fazendo assim compartimentos estanques, que impedem a passagem de coisas más e mal pensadas, mas muitas vezes, coisas boas ou bem pensadas. Temos que voltar ao básico, aprender a ter uma conversa em que não esbarre na necessidade primária de ter razão. Por outro lado, a exigência é tanta que também devíamos, a meu ver, ter outras disciplinas nas escolas, como, por exemplo, educação financeira, reforçar a importância do desenvolvimento artístico bem como algo que fosse uma aplicação prática da filosofia, para nos ensinar a pensar mais e melhor. A vida é mais que um encontro de egos feridos com a ignorância do que não sabem.
A frequência com que penso, nestes problemas, tem aumentado radicalmente com o passar do tempo, com a curiosidade crescente, com a comunicação social e com as pessoas á minha volta, que embora não sejam uma representação da sociedade portuguesa, na totalidade, ainda assim dão uma pequena ideia daquilo que poderá ser.
Assim, a profissão que tenho ajuda-me a fazer esta espécie de sondagem do pensamento comum e menos comum. Falo com muitas pessoas, de muitas origens, de diferentes classes sociais daí conseguir entender que, infelizmente, o pensamento vai numa direção que nos deixa cada vez mais isolados uns dos outros, menos capazes de entender sem argumentar. O exercício é mesmo colocar de lado o nosso ego e entender de onde é que o outro vem. Contudo, está cada vez mais difícil e na minha opinião, tem tudo a ver com o avanço da tecnologia que torna tudo mais simples, mais rápido e com muito mais escolha do que antes. O que leva a que exijamos cada vez mais de tudo o que nos rodeia, trabalhando assim a falta de empatia e de paciência, de tal modo que muitas vezes já é vista como uma fragilidade, talvez até um defeito.